terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 11 - Pedaços ao longo do caminho

A 4a. reunião realizou-se na casa do Beber, novamente em clima descontraído onde enquanto tomávamos algumas garrafas de vinho, analisávamos os mapas e lugares onde vamos passar.
 As ausências dos amigos de Campo Grande e Florianópolis novamente foram sentidas, mas nada que a criatividade e o bom humor não resolvessem a questão.
O roteiro completo elaborado pelo Chico foi então apresentado nesta reunião, detalhando os postos de gasolina, os hotéis, os locais onde vamos fazer as paradas, enfim, víamos a nossa frente a materialização do projeto e a divisão da viagem, as pernas que teríamos de vencer a cada dia e os dias de folga, onde dormiríamos e iríamos poder conferir as atrações de cada local.
Claro, todos cientes de que em uma viagem longa, haverão imprevistos e que ao longo do caminho tem de ser ajustados.
Mas vale a recomendação dos mais experientes, viagem longa, deve sim ter uma preparação bem feita e creio que estamos seguindo bem esta fase da viagem.

Vencida esta etapa, era hora de pensarmos em como deixar marcada esta viagem para nós e para os amigos que vamos fazer e que vem ao nosso encontro ao longo da jornada.

De fato, hoje em dia quando se fala em viajar de moto pela América do Sul, já há uma “rede de amigos” por todo canto.
Isto tudo, fruto dos encontros internacionais em que alguns do grupo participam, e acabaram criando não só um laço de amizade, mas uma rede de apoio importante.
Por isso, em várias cidades que vamos passar neste nosso projeto, haverá um ou outro amigo que já estiveram em encontros no Brasil ou então, alguém do grupo já os encontrou em reuniões no Paraguai, Argentina, Chile, Peru e Uruguai.

Esta “rede de amigos” ao saber de sua viagem se prontificam a receber o comboio em suas cidades de origem, programarem passeios, um jantar com o grupo, ou então, um simples encontro em um posto de gasolina, nem que seja apenas para um aperto de mão e dizer “buena suerte”

Não é incomum muitas vezes, protagonizarem histórias fantásticas, como viajarem kms e kms de distancia de suas casas, apenas para prestar socorro a alguém em pane ou quebra, assim como, desmontarem suas próprias motos para retirar determinada peça e emprestar aos que ali passam e com o imprevisto, ficariam na estrada sem o pronto socorro.
Quem já recebeu este tipo de ajuda, sabe do que estamos falando.

Esta é a grande diferença quando se viaja de moto ao invés do carro ou avião.
A moto é uma verdadeira “fazedora de amigos”, pois quem viaja, sabe o que estamos dizendo: é só parar em um posto de gasolina ou hotel, que as pessoas chegam quase que naturalmente a lhe perguntar de onde veio, para onde vai, e se pode tirar uma foto em cima da sua moto.

Se você tem a sorte de encontrar um outro motociclista então, o amigo está feito antes mesmo de retirar o capacete, pois motociclista de verdade, não cria barreiras ou tem algum tipo de preconceito, sabe e é conhecedor do espírito que rege esta doutrina.
Uma vez conhecido, depois de alguns minutos de conversa, parecem que são amigos de longa data.
Muitas novas amizades surgem deste modo, ou então, quando existem os encontros onde a reunião de velhos e novos amigos termina sempre com você acrescentando um novo em sua lista.
E é assim que funciona no mundo todo, uns mais abertos outros mais tímidos, e é por isso, que somos especiais.

Mas voltando a nossa reunião na casa do Beber depois do delicioso jantar, o grupo decidiu que teríamos uma camiseta exclusiva, assim como camisas, patchs e pins.
Da escolha do tecido, até a confecção das camisetas e das camisas, seriam ainda alguns encontros e pesquisas.
Alguém pode estar pensando neste momento: mas para que isto tudo?
E a resposta é simples: É isso que diferencia um projeto do outro.
Muitos viajam, muitos vão e voltam e fica o vazio.
São ajudados pelo caminho, e em troca, um obrigado ou nem isso.
Poucos deixam suas marcas e nosso grupo decidiu que deixaria sua marca por onde passasse.
A camiseta, que iríamos conhecer o modelo em nossa próxima reunião, depois de usada na viagem, seria dada de presente a atendentes de hotéis, nos postos de gasolina, ou ás pessoas que cruzassem nossos caminhos, além dos amigos que iriam nos receber em algumas das paradas definidas.

Seria uma forma carinhosa de deixar “pedaços de nosso projeto ao longo do caminho” e uma forma de agradecimento e reconhecimento aos amigos que se dispõem em nos receber e nos proporcionar momentos de alegria e companheirismo.

Estas pessoas que ganharão estas recordações serão aqueles que ao olharem para a camisa ou camiseta, se lembrarão de um grupo de motos, vindas de longe, que por ali passaram e deixaram aquela recordação e, para eles, aquilo terá uma história e que terão de contar e recontar de como conseguiram ganhar aquela camiseta, aquela camisa ou aquele pin, que ninguém mais tem por ali.
Parece nada, mas quem já presenteou uma pessoa humilde, ou alguém que o ajudou em momento difícil e viu o sorriso no rosto desta pessoa ao receber o presente, jamais esquece.
Não há melhor forma de dizer obrigado do que dar a pessoa, sua própria roupa.
E queremos ter e guardar estas boas recordações em nossa viagem.
Por isso, a camiseta teria de ser linda, especialmente elaborada e única.

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 10- Os fazedores de Chuva


Conhecemos um grupo de motociclistas que, recentemente, se reuniu em Itajaí-SC, todos viajantes e que se auto-intitulam “Os Fazedores de Chuva”.

O título peculiar nos chamou a atenção, e por ocasião desta nossa viagem ao Fim do Mundo, iniciamos uma pesquisa para entender um pouco mais do significado deste título, até então desconhecido por nós.
O grupo, formado por diversos motociclistas das mais variadas partes do mundo, tem em comum o amor pelas viagens em duas rodas, mas não viagens comuns e, sim, por longas e duradouras viagens de aventura.

Será que nós, que vamos iniciar uma viagem longa e a um lugar tão especial como o Ushuaia, teríamos direito a algum título especial?

Antes de responder a esta pergunta, procurei saber um pouco mais sobre os “Fazedores de Chuva”.
Soube que faziam parte dos povos antepassados, que viveram na América ainda não descoberta.
Os Fazedores de Chuva eram sacerdotes Mayas. Os Tz’utujiles os chamavam Nabe’ysiles.
Acreditavam que tinham poderes de fazer chover ou fazer parar de chover.
Em Atitlán, eram os intermediários entre suas comunidades e os deuses da chuva. Os Nabe’ysiles se encarregavam de pedir a chuva para que o povo tivesse boas colheitas.
Uma estória contada de geração em geração, narra uma das passagens destes mitos que viveram entre nós por gerações, e eram venerados e adorados por seus povos.

O titulo da estória é: “O Fazedor de Chuva” - autor – desconhecido.

“Certo povo, sofria durante muitos anos consecutivos uma terrível seca. Apesar de que a comunidade solicitou em várias ocasiões os serviços de famosos fazedores de chuva, nenhum conseguiu solucionar o problema. Em uma última e desesperada tentativa os cidadãos do povoado decidiram pedir ajuda a um famoso fazedor de chuva de um país distante.
Quanto este chegou ao povoado, armou sua tenda de campanha, entrou nela e desapareceu durante quatro dias.
No quinto dia, a tão esperada chuva começou a cair com abundância, molhando toda a terra ressequida pela seca.
Aos olhares incrédulos dos olhos de todos, os habitantes do povoado perguntaram ao fazedor de chuva como havia conseguido fazer aquele milagre.
 - O mérito não é meu, respondeu o fazedor modestamente. Eu não fiz nada.
Diante daquela resposta, os habitantes do povoado exclamaram:
 - Não é possível! Quatro dias depois de você chegar começou a chover?
 - A primeira coisa que eu falei ao chegar, explicou o fazedor, foi que vosso povo não vivia em harmonia com o céu.
 - Eu somente harmonizei meu ser com o poder de Deus durante quatro dias e o céu nos presenteou com sua água de chuva”.

Texto retirado e copiado da internet – autor desconhecido.

Entendi então que, além de terem poderes especiais, os fazedores de chuva faziam algo que os diferenciava dos demais de seus povos.
Por vezes, viajavam em terras estranhas e desconhecidas, á busca da chuva tão necessária para seus povos.
A analogia com os Fazedores de Chuva viajantes da atualidade me fez agora sentido.
São pessoas especiais, que buscam terras distantes e desconhecidas e pela grandeza de suas viagens, se tornam homens especiais.
Não precisam de reconhecimento ou exposição pública, simplesmente tem em comum o espírito da aventura e a busca, não da chuva em si, mas do auto conhecimento e da harmonia do poder do grupo para com Deus.
Então, seremos nós um grupo em harmonia com o céu?
Se assim o formos, seremos merecedores do primeiro degrau da graduação.

Voltando a reunião dos motociclistas de Itajaí, fiquei sabendo que o primeiro degrau é ser um “Fazedor de Garoa”.
Faz jus a este título, todo motociclista que chegar ao... Ushuaia!

Opa!!, então, ganharemos todos um título muito especial se realizarmos esta viagem ao Ushuaia.

Seremos todos, “Fazedores de Garoa”.

Do nosso grupo de viagem, o Chico e o Lelê já tem o título de Fazedor de Garoa por já terem ido e voltado de moto ao Ushuaia.
O MacGyver quase, pois foi de moto e retornou de carro.

 No ano que vem o Chico e o Lelê planejam partir ao Alaska, e serão então do grupo, os dois primeiros e legítimos detentores do título de “Fazedores de Chuva”.

Então, nos resta torcer para que nossa viagem seja coroada de êxito, e que voltemos de lá, todos legítimos “Fazedores de Garoa”.
O que não imaginávamos a esta altura, seria a ligação desta estória com a surpresa a nós reservada no retorno para casa, mas que será contada lá na frente,  no momento oportuno.