quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 8 – O Alicerce do Projeto


A 3a. reunião foi na minha casa novamente, e o Macgyver ficou encarregado do jantar.
Esta foi, sem dúvida, uma reunião das mais importantes até aqui, pois de fato, ao final dela, tínhamos um “projeto de viagem”, finalmente no papel e também porque, muitas decisões importantes foram tomadas nesta ocasião.
É como a construção de uma casa, você tem idéia dos quartos, da sala, da cozinha, mas não sabe ao certo, onde e nem como começar.
Mas quando as paredes começam a subir, você já começa a sonhar com os quadros e a cor das paredes.
Assim é um projeto de viagem, algo para ser curtido, é muito prazerosa esta fase.
Então, vou chamar esta reunião de “alicerce do projeto”, pois depois deste encontro, o projeto ganhou vida pelas decisões tomadas em conjunto.

 O sabor de cada assunto sendo tratado se confundia com o sabor dos vinhos e da excelente pizza que comemos enquanto ouvíamos conselhos e observações de todos, dúvidas, medos, enfim, tudo o que cerca uma viagem longa como a que pretendemos fazer daqui a três meses e meio.
O cuidado extremo na escolha dos participantes sempre norteou o grupo, e uma frase dita pelo Joaquim , sintetiza todo este sentimento.

“Temos de sair como irmãos, e cuidar, para não voltar como primos”.

Não precisa dizer mais nada, muita gente quer ir, mas temos de cuidar para que o grupo seja coeso e muito mais do que coeso, seja fraternal.
Sem dúvida alguma, realizaremos uma viagem com pessoas especiais, amigos de fato.
Mas a frase do Joaquim deve estar sempre em nossas mentes a cada stress que com certeza, vão surgir lá na frente.
Deste encontro, várias foram as decisões e recomendações tomadas em consenso:

-      A data da partida será – 26/12/2009, de Blumenau, as 06:00 h.
-      Todas as decisões e recomendações que envolvam Segurança e Manutenção, todos vão seguir o mesmo procedimento padrão, sem exceção.

A decisão relativa a itens de segurança e manutenção tem por objetivo garantir que caso ocorra uma quebra ou um problema relativo na viagem, será por conta do acaso e não do descaso.

Esta recomendação acima, embora pareça meio que imposição, e foi imposição mesmo, pois afinal, cada um viaja da forma que achar que deve, mas poderá fazer enorme diferença caso um problema apareça e o membro não tenha seguido a recomendação do grupo.
Com certeza, o que menos queremos nesta viagem, é ficarmos estressados um com outro por motivo pequeno.
Então, nada melhor do que estabelecer algumas regras já olhando para frente, e sabedores que somos que, nem tudo é festa em uma viagem longa e em grupo, então, tudo o que puder ser feito antes visando minimizar atritos, melhor.
E foram muitas e importante as decisões tomadas neste sentido, desde pneus zerados e sem câmaras, até o tipo de roupa mais adequado para a viagem, passando por vacinas, documentação da moto e seguro.

Estes momentos que antecedem uma viagem devem ser curtidos por todos os que pretendem realizar um sonho ou um desafio.
Se aprende muito nesta fase, principalmente com os mais experientes.
Esta de pegar a moto e sair sem destino, você pode chegar a lugar nenhum, ou sua viagem terminar em um ponto indesejável.
Deixe isso para as estórias de cinema.
Então, a discussão do grupo, a participação e o ajustamento de pontos de vista e idéias, é o primeiro passo, para uma boa viagem.
Se isto fez ou não alguma diferença, só vamos saber lá na frente, quando estivermos de volta.
Vamos conferir.
De toda forma, como é bom estar junto de pessoas por quem temos amizade, são momentos alegres e de descontração, que todos nós precisamos praticar cada vez mais.
A próxima reunião será na casa do Beber, onde já devemos ter o roteiro mais definido e também, outras decisões mais avançadas.





















Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 7 – Afiando os nossos machados


O fato de ainda estarmos em Agosto e programando a possível viagem para final de Dezembro, tem um efeito duplo.
Por um lado, chegaremos à formatação final da viagem com tempo suficiente para preparar a moto e a nós mesmos sem atropelos.
Por outro lado, cria um misto de ansiedade e incerteza, se de fato, o projeto vai ou não ganhar vôo.
É incrível como um objetivo faz bem as pessoas e talvez por isso, o homem é movido a sonhos.
O sonhar, mais do que traçar metas no horizonte futuro, transforma as pessoas e dá a elas o motivo que faltava para iniciar certas atividades visando preparar-se para aquilo que se avizinha.
É como um comandante às vésperas de uma batalha, em que conhece a força do inimigo e as limitações da sua tropa.
Neste instante, ele incondicionalmente, direciona esforços para o fortalecimento dos pontos fracos, do treinamento e aprimoramento da sua tropa, pois em caso contrário, perderá a batalha.
Nós somos assim, somos movidos pela necessidade e todos sabemos onde estamos bem, e onde precisamos reforçar nossas fraquezas.

Alguns dos membros do grupo, incluindo este que escreve, iniciaram um processo de condicionamento físico e fortalecimento de suas deficiências, a fim de suportar melhor o tempo e a fadiga que se vislumbravam e isto tudo, antes mesmo do projeto ter tomado forma.
É incrível que por vezes, ficamos ensaiando iniciar um tratamento ou o condicionamento físico, mas sempre arrumamos uma desculpa para não fazer naquele momento.

O Ushuaia é isso, desafia as pessoas a buscar o seu melhor, a se preparar bem para não fazer feio e ver seu sonho transformar-se em decepção.
Isto me fez lembrar de uma estória que já citei em algumas de minhas palestras, cujo título era:


O Velho Lenhador


“Em uma antiga vila de lenhadores, conta a estória que ocorria uma vez ao ano, uma competição, em que o vencedor seria sempre o lenhador que mais troncos cortasse ao final do dia.
Naquele ano, logo após dado o sinal da partida, os mais jovens correram á frente, e freneticamente, começaram a derrubar os troncos em grande velocidade, e avançavam rapidamente.

Lá atrás, um velho lenhador, de tempos em tempos, interrompia o trabalho e sentado, observava a correria e a velocidade com que os competidores mais jovens avançavam.
Um deles se aproximou dele e o interpelando, disse:

-        Todos já avançamos e cortamos muitas árvores. Noto que o senhor interrompe sempre seu trabalho. Eu entendo que pela sua idade, o senhor deve se cansar mais rapidamente do que nós.
-        Porque não desiste, salvando assim o pouco de saúde que lhe resta?
-        Meu jovem, respondeu o velho lenhador, ocorre que eu estudei por semanas todas estas espécies de árvores desta floresta que ora estamos cortando, e eu sei que todos são troncos robustos e de madeira dura.
-        Sem dúvida que recuperar o fôlego é importante, mas não o mais importante.
-        Durante minhas paradas, eu não apenas recupero o meu fôlego, mas principalmente  aproveito o tempo,  para afiar o meu machado.
-        Ter a ferramenta adequada e afiada é fundamental para gastar menos energia e poder chegar ao final do dia menos cansado e vencer a competição.
-        E é exatamente  isso que pretendo fazer hoje, vencer esta competição.
-        Da forma como vocês fazem, não conseguirão sequer chegar ao meio dia, pois estarão exaustos pelo enorme esforço que fizeram por terem trabalhado o tempo todo, com a ferramenta despreparada.”

Relacionei a estória com o que estamos fazendo agora, nos preparando, e creio que neste momento, estamos apenas “afiando nossos machados”, á espera do momento da partida, para chegarmos ao fim da viagem inteiros.

O que importará menos para nós será quantos km agüentaremos pilotar a cada dia, ao contrário, priorizaremos o prazer do convívio e o sabor da vitória, quanto todos nós estivermos de volta em nossas casas.

Por isso, ao planejar uma viagem longa e a um destino como o Ushuaia ou um outro distante, deveremos saber exatamente o que vamos enfrentar pela frente.
Deveremos conhecer cada um os seus pontos fracos, e preparar da melhor maneira, a nós e a nossas maquinas.

E nada melhor do que contar com velhos viajantes, que acumularam experiências de viagens anteriores, que neste momento, usam sua sabedoria para agregar conhecimento ao grupo, buscando com isso, o melhor preparo.
Em toda grande viagem de moto, experiência e planejamento nunca devem dar lugar a pressa.
Ter membros experientes no grupo traz a todos nós um inexplicável conforto tendo a certeza de que, temos muito mais a aprender do que a ensinar.
Humildade, antes de tudo, pois aos mais experientes, obediência e respeito devemos ter.