sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho Cap 21 - A tempestade


Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho
Cap 21 - A tempestade


O plano era sair de Buenos Aires * bem cedo, ao amanhecer, a fim de cumprirmos com o trajeto programado para o dia.

* Buenos Aires ("Bons Ares", em português) é a capital e maior cidade da Argentina, atualmente é a segunda maior área metropolitana da América do Sul, depois de São Paulo. A cidade está localizada na costa oriental do Rio da Prata, na costa sudeste do continente sul-americano. A cidade de Buenos Aires não faz parte da Província de Buenos Aires e nem é sua capital, mas sim, é um distrito federal autônomo. A Grande Buenos Aires é a terceira maior aglomeração urbana da América Latina, com uma população de cerca de 13 milhões de habitantes e considerada uma cidade global.
Pessoas nascidas em Buenos Aires são chamadas de "porteños".
Fonte: Wikipédia

O amanhecer em Buenos Aires é muito lindo, pois a metrópole adormecida começa a acordar devagarzinho, e aos poucos, um barulho aqui, um carro que passa pela rua devagar, o abrir das portas dos cafés e os primeiros raios de sol, invadem as ruas e avenidas.

Buenos Aires é uma cidade realmente linda, com suas largas avenidas, seu casario característico, seus cafés, suas praças muito bem cuidadas e suas paixões, qual sejam o tango e o futebol.
Mas, como em todo lugar, tem também a pobreza, e ela acorda junto com o sol, desocupando as marquises dos prédios e portas das lojas.

Na calçada frente ao hotel, ainda com o sol nascente, aqueles que trabalharam a noite toda, tomam o rumo de casa para o merecido descanso, enquanto outros, ainda sonolentos, começam a deixar suas casas, cada qual para o seu destino, na dura rotina do trabalho, neste final de 2009.

Ao chegarmos a garagem onde nossas motos dormiram tranqüilas, constatamos que uma delas apresentava um pequeno vazamento de óleo, que podia ser visto no chão, logo abaixo do motor, prendendo a atenção de todos.

Nos preparativos da nossa expedição, desde o princípio havíamos definido que em item que envolve segurança, não haveria exceção alguma, e qualquer das motos que apresentasse algum problema, deveria ser tratado da melhor maneira possível.

Assim sendo, o Gica que veio nos encontrar no hotel para nos levar até a saída da cidade, inicia uma série de telefonemas até encontrar uma oficina especializada para o reparo pois a loja da Harley não abre às segundas feira.
Em Buenos Aires e principalmente em uma segunda feira, o pessoal começa a trabalhar mais tarde, por volta das 10h é que oficinas especializadas abrem suas portas.
Depois de certo tempo, enfim achou uma oficina que poderia fazer o reparo e o comboio se deslocou pelo centro da cidade até o bairro de Palermo e lá ficamos aguardando a abertura da oficina.
Um senhor muito simpático e amante do motociclismo iniciou os reparos na moto que apresentava vazamento e enquanto isso, a turma animada ficou no jardim em frente da oficina, claro, dando boas gargalhadas um com outro.

Nas conversas com os amigos enquanto o reparo era efetuado, nenhum stress ou menção alguma sobre o atraso, pelo contrário.
O pensamento era único, este atraso nada mais é do que um redirecionamento do nosso tempo, á medida que, não temos qualquer domínio sobre ele, mas Ele sim tem, e aquilo era tão somente, um ajuste feito por Ele, que nos pouparia de algo pior na frente.
Se aquilo aconteceu, foi porque tinha de acontecer.

O problema se resumiu a nada mais do que um aperto mal feito na tampa que protege a caixa de câmbio, e depois do re aperto, tudo resolvido, e o Gica nos guiou até a saída da cidade, se despedindo de todos e nos desejando uma ótima viagem.
Céu fechado e as roupas de chuva foram retiradas dos bagageiros para a partida definitiva.

 O Chico então, pergunta para mim: 

-        Pires, agora o caminho é para baixo, estás pronto?

A resposta foi um “sim”, mas confesso que deu um frio na espinha ao pensar que, daquele momento em diante, o rumo seria único, rumo sul, rumo ao fim do mundo sem saber o que nos esperava pela frente, pela Ruta 3, que seguiríamos até o seu final.

O que nos espera?
Quais desafios encontraremos pelo caminho?
A resposta não existia, só uma certeza: a companhia dos amigos, a vontade e a
determinação em chegar ao destino final, e o retorno seguro para casa.
Então, partimos, Ruta 3, mais de 3.700 km pela frente, rumo ao desconhecido.

E o primeiro grande desafio não tardou a chegar, pois menos de 60 km depois de Buenos Aires, uma tempestade veio a nosso encontro, e veio forte, muito forte, como poucas que vimos ate hoje.
Uma verdadeira bomba d´água nos pegou de frente com ventos laterais fortíssimos, muita água, e o transito intenso de caminhões em sentido contrário, aumentavam ainda mais a tensão ao pilotar a moto.
Era tanta chuva que não se enxergava praticamente nada a não ser o farol dos carros em sentido contrário, e as lanternas das motos dos amigos que iam a frente.
Pilotar com chuva é complicado e perigoso, exige a máxima atenção possível do piloto, pneus em bom estado e uma boa proteção para o corpo são essenciais em uma hora destas.
Neste aspecto, todos estávamos devidamente preparados.
Menos o Toninho, que não havia colocado a capa de chuva, e foi obrigado a fazer um pit stop em um posto de gasolina para colocar a roupa quente, embora neste momento, já estivesse com até com a alma molhada, de tanta chuva que havia tomado.
Em seguida, logo a frente, nos alcançaria de novo, daí com toda a roupa vestida.
Foi um desafio enorme vencido pelo grupo, onde a camaradagem e o espírito de equipe mostravam o seu valor.
Como o rádio comunicador faz diferença numa viagem em grupo, deveria ser equipamento obrigatório, pois com ele, a segurança aumenta muito quando viajamos em grupo.
Avisos sobre pista escorregadia, buracos, caminhões em sentido inverso, carro na retaguarda, carro ultrapassando eram dadas a cada instante.
Estas informações, além das brincadeiras durante o trajeto, nos acompanhariam durante toda a nossa expedição.

Muita tensão em um longo trecho da rodovia, que tem bom pavimento, mas a chuva era tamanha, que parecia estarmos deslizando sobre um rio negro.
Vimos que estávamos prestes a vencer a primeira batalha quando horas depois, vimos lá ao longe no horizonte, sinais de que a tempestade estava terminando.
Passamos por ela, rasgamos ela ao meio com nossas valentes companheiras e o sol mostrou sua beleza, secando a pista e trazendo de novo, a sensação maravilhosa de pilotar uma moto, ao lado de amigos, rumo ao desconhecido.
Acima de nós, como em São Gabriel, avistamos um bando de pássaros voando rumo sul, saindo da tempestade, assim como nós.
A natureza é fantástica, pois ao mesmo tempo em que proporciona momentos de tensão e de perigo, também proporciona cenas maravilhosas como aquelas á nossa frente.
Novamente, podíamos associar um bando de pássaros voando num lindo céu pintado de dourado, com o nosso bando cá embaixo, rodando juntos e comemorando o fim da chuva.
Ambos rumando juntos, e saindo com vida da tempestade, que ainda podíamos observar pelo retrovisor de nossas motos.
Por debaixo do meu capacete, pensei:

-        Eles, em busca de um lugar seguro para passar a noite, assim como nós, rumo sul, Ruta 3, pois a noite vai chegar logo e também precisamos chegar a um lugar seguro para descansar nossos corpos.

Logo após a tempestade, veio o sol e a calmaria voltou na estrada novamente.
Com ela, as conversas no radio PX voltaram também, agora não para alertar sobre caminhões ou carros, sobre água na pista ou outro perigo.

E foi assim, que um assunto já esquecido e que tinha sido discutido no rádio PX ainda na saída do Brasil, voltou a ser discutido neste trecho da Ruta 3:

-        O significado da palavra CAPÃO.

Isto mesmo, “capão”.

Coincidentemente, neste trecho da Ruta 3, após termos passado pela tormenta, avistamos vários “capões” no caso, de mato, e o assunto voltou a tona.
Tudo começou quando o Chico perguntou, em algum outro ponto da estrada, lá no Brasil:

-        Alguém aí sabe o significado da palavra Capão?
-        Porque temos Capão da Canoa, Capão Alto, Capão Redondo?
-        Olha Chico, veja bem, aqui no meu Rio Grande, capão é um amontoado de árvores juntas, soltas no meio do campo, responde o Beber.
-        É isso mesmo, lá em São Paulo o significado é este mesmo, um capão é o resto de uma floresta ou capoeira que existia, e que ao ser derrubada para dar lugar ao pasto, o homem preservou um restinho dela. Lá no meu estado, também temos nomes de cidades, como Capão Bonito, respondi eu.

Já o Toninho, deu outra versão:

-        Pessoal, posso falar?
-        Lá em Mato Grosso, “capão” é quando se “capa” o touro, o cachorro, o porco, para que engorde mais rápido, ou não procrie, então é assim que chamamos.
-        É o animal “capado” entendem?
-        Olhem ali, á direita, aquilo então é um “capão”? Pergunta o Alexandre.
-        Exatamente meu caro, aquilo ali é um “capão” e é assim que o conhecemos, confirmou, confirmando o que eu havia falado.
-        Exatamente Beber, é isto mesmo, aquilo ali são “capões” de floresta, confirmei.

A verdade é que quando se viaja em um grupo de amigos como o nosso, o estado de espírito de todos é tamanho diante da felicidade em estar ali, viajando de moto, ao lado de pessoas amigas, que qualquer assunto é bom, mesmo que o tema seja desconhecido ou que em qualquer outra roda de conversa, se tornaria sem qualquer interesse, como este do “capão”.
Ao viajar de moto ocorre uma transformação no seu modo de enxergar as coisas, fazendo com que, um assunto bobo, seja debatido até a exaustão.

Foi o caso do “capão”, que relatei apenas como exemplo.
Mas tiveram muitos e muitos outros ao longo da nossa jornada.

Vamos sentir muitas saudades das longas discussões que fizemos pelo rádio PX durante a nossa expedição.
Este é apenas um exemplo que lembramos.

O que se pode observar neste trecho entre Buenos Aires e o Rio Colorado, são imensas fazendas de criação de gado, plantação de girassol, milho, soja e outras variedades a perder de vista.

E seguíamos felizes pela Ruta 3, bom asfalto, longas retas e longas discussões sobre os mais variados temas.
Ao final da tarde entramos em Bahia Blanca *, simpática cidade localizada próxima ao litoral argentino.

* Bahía Blanca é uma cidade da Argentina, na província de Buenos Aires, distante 650 km da Capital Federal. Foi fundada em 11 de abril de 1828. O nome Bahia Blanca tem origem da brancura dos salitres costeiros. É a cidade urbana mais importante do sul argentino e importantíssimo complexo portuário, sendo o porto de grãos mais importante do país. Sua população é de 274.509 habitantes (2001).
Cidade tipicamente industrial. Abriga muitas indústrias químicas, dentre elas, uma refinária da Petrobrás.
Fonte: Wikipédia

Seguindo o Road Captain, rumamos direto ao posto de combustível marcado no GPS para abastecimento das motos e deixá-las prontas para a partida na manhã seguinte.
Esta dica é de grande valia aos viajantes que nos lêem neste momento:
Dormir com todas as motos abastecidas para, no dia seguinte, não perder nenhum minuto em abastecimento.
Parece nada, mas faz enorme diferença na saída do dia seguinte e esta regra seria seguida em todas as nossas paradas.

O grupo também ia se transformando, e já havia desenvolvido habilidades entre os membros, deixando de ser dependente de um ou dois amigos mais experientes.
Assim, enquanto uns terminavam o abastecimento, o Beber e o Buatim se encarregavam de procurar e negociar as tarifas dos hotéis, enquanto todos esperavam no posto.

Assim, evita-se que todos se desloquem no transito mais pesado das cidades e, assim que os dois retornassem com duas ou mais alternativas de tarifas, o grupo escolhia e todos iam juntos ao hotel.
Coisa linda.

Eu e o Lelê nos encarregávamos da escolha do restaurante para o jantar, e o Ivan, das dicas de passeio.

Nos deslocamentos, Lelê como RC, o Chico como apoio, e o Joaquim como Cerra Fila cuidavam do comboio.

Toninho e MacGyver, não deixavam ninguém com sono no percurso, com suas histórias, desafios de conhecimento e as brincadeiras, tudo pelo rádio.
Estávamos nos tornando uma equipe.

Naquela noite, no hall do Hotel, ficamos sabendo por um viajante que aquela tempestade que pegamos no início do caminho, havia horas antes passado próxima dali, e muito mais intensa do que havíamos enfrentado, com ventos fortíssimos, muito mais perigosos.

Me lembrei das gotas de óleo debaixo da moto, que nos obrigou a fazer o reparo e atrasou nossa partida.
Se tivéssemos saído mais cedo, teríamos pegado a tempestade muito mais intensa do que pegamos e isto, nos deu um conforto maior ainda.

Neste dia, um jantar com as excelentes carnes argentinas foi oferecido por mim, já que era a minha primeira viagem internacional de moto.

O primeiro grande desafio havia sido vencido, enfrentamos o imprevisto em Buenos Aires e a Tempestade no caminho.
Isto tudo havia servido para uma união ainda maior do grupo, e isto já dava para sentir pelas atitudes e disposição de todos os companheiros.






























sábado, 15 de setembro de 2012

Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho Cap 20 - Os céus do Uruguai


Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho
Cap 20 - Os céus do Uruguai


Após os trâmites de entrada e depois de resolvermos o problema do Toninho, adentramos em território Uruguaio por volta das 13 horas, com céu claro e muito calor.

Devagarzinho, a paisagem foi se transformando à nossa frente, e uma sensação diferente ia tomando conta de cada um de nós, pois pilotar a moto em território que não o brasileiro, causa em cada piloto, uma sensação indescritível.
À medida que avançávamos, o que mais nos chamava a atenção era o céu Uruguaio.

Que maravilhoso!!

Aos poucos, fomos todos sendo envolvidos por um imenso azul, indescritível e largas planícies a perder de vista. Naquele momento, sabíamos que estávamos iniciando de fato, nossa peregrinação para o Fim do Mundo.

E o Fim do Mundo começava daquele jeito, um céu maravilhosamente lindo.
Os rádios, todos eles, permaneciam mudos, como se todos nós tivéssemos entrado em um transe e contemplávamos, cada um a seu jeito, a grandeza e a maravilha que se abria a cada km, a nossa volta.

Em pouco tempo, não importava para que lado direcionasse o meu olhar, era tudo azul, imenso, profundo, como se estivesse em uma redoma gigantesca de vidro, finamente decorada a nos abraçar e a nos proteger.

O barulho das 8 motos contrastava com o silencio das longas retas das estradas da Republica Oriental do Uruguai e, aos poucos, ia percebendo que o “elástico da viagem”, começava a se esticar ao me distanciar de minha casa e de meus queridos.

O Lelê, nosso Road Captain, com a duríssima missão de nos conduzir com segurança até nosso destino final.
O Chico viajava logo atrás, no papel de orientador, usando sua longa experiência em viagens.
No final da fila, nosso queridíssimo Joaquim, com a também duríssima missão de fechar a fila, cuidando da retaguarda do comboio, para que nada de mal pudesse nos acontecer.

E assim, abençoados por Deus e protegidos por competentes viajantes, o comboio se deslocava rapidamente, cortando as planícies do Uruguai.

Foi então, que o RC Lelê, com a voz embargada pela emoção que estava sentindo por liderar a expedição, ousou dizer no rádio a todos nós:

-        Obrigado Senhor dos Tempos, por esta visão maravilhosa que estamos tendo,
-        Obrigado por estarmos aqui e obrigado pelo privilégio de estar a frente de todos vocês.
-        É um orgulho para mim estar aqui a frente, liderando este grupo maravilhoso.
-        Que Deus nos acompanhe.

A viagem ao fim do mundo começava assim, linda, maravilhosamente linda e aos poucos, ia tirando a crosta acumulada das preocupações do nosso dia a dia, que nos veste a todos nós como uma “carcaça” dura.

O viajar é isto, antes de tudo, uma oportunidade para tirarmos esta “casca” e nos tornarmos nós mesmos, sermos na essência o que sempre fomos, mas que o dia a dia não nos permite demonstrar.

E você sente muito mais isto estando em cima de uma moto, com o vento ao rosto, o cheiro da terra, o gosto da água, o som do vento, sentindo no guidão a aspereza das rodas tocando o asfalto.
Você e a moto são neste momento, um só e moto/homem/natureza, unidos e abençoados por uma atmosfera exuberante.
Isto é, em sua essência, o viajar de moto.

Chegamos a Paysandu, fronteira com a Argentina e encontramos uma fila enorme de carros e caminhões que aguardavam para a passagem.
Um sol de rachar também se fazia presente, e resolvemos passar adiante, avançando as motos pelo corredor formado pelos carros e caminhões em uma manobra muito normal no Brasil.
Como as motos eram todas grandes, passávamos apertado, mas sempre contando com a compreensão dos motoristas.
Menos a compreensão de um deles.
Um senhor, de uns 60 anos mais ou menos, carrancudo, abriu a porta do carro e impediu a passagem do comboio.
O RC Lelê, que seguia á frente, argumentava que estávamos no sol, que iríamos aguardar na sombra mais á frente, tudo isto com educação.
E nada do senhor abrir passagem.
Com muito jeito, conseguiu convencê-lo, não depois da própria esposa do senhor sinalizar a ele que não tinha sentido o que ele estava fazendo.

Na aduana, os procedimentos de praxe, e já estávamos viajando em território argentino.
Chegamos em Zarate, a 85 km de Buenos Aires, e dois amigos nossos, os PHD’s Gica, brasileiro que vive hoje em Buenos Aires, e Sábio, um argentino, que nos aguardavam, logo após o pedágio para nos guiar dali em diante até o nosso hotel, no centro de Buenos Aires.
A chegada em Buenos Aires no final de um domingo é muito complicada, trânsito pesado, muitos carros retornando á Capital Federal.
Mas o comboio, agora com 10 motos se deslocava muito rápido, nas excelentes auto pistas argentinas e rapidamente, nos encontrávamos frente ao Obelisco, marco da cidade e muito próximo do nosso hotel.

Na recepção preparada pelos amigos Gica e Sábio, um delicioso jantar em um restaurante na capital portenha com direito a sorteio de brindes.
Um boné e uma camiseta oferecidos pelos amigos e que foram ganhos pelo Toninho e Joaquim, respectivamente.

O dia de hoje foi espetacular.
O grupo foi testado pela primeira vez, na aduana, e se mostrou mais unido do que nunca.
Os céus do Uruguai são fantásticos.
Os amigos nos receberam e nos deram toda atenção e companheirismo aqui em Bs Aires, nos fazendo sentirmos em nossas próprias casas.

Agora seria descansar, para amanhã cedo partir rumo a Bahia Blanca, a ruta 3 nos aguarda e todos estamos ansiosos para iniciar a nossa descida.



























Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho Cap 19 – Com cara de Vaca Laçada


Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho
Cap 19 – Com cara de Vaca Laçada

Acordamos bem cedo neste dia e pela janela do quarto, vi que havia chovido muito a noite toda em São Gabriel e pelo visto, em toda região.
Carregamos as motos e fomos ao restaurante onde tomamos um excepcional café da manhã, preparado pelo simpático senhor dono do restaurante, que nos fez a gentileza de abrir o refeitório as 06:30 h, quando que o habitual é abri-lo á partir das 07:00h.
Se consegue muitas coisas em se pedindo com boa educação, e a abertura do restaurante antes do horário, foi um bom exemplo.
Pedimos na noite anterior para tomarmos café mais cedo, explicando da nossa viagem e da necessidade de pegarmos a estrada.
O dono do restaurante, um senhor simpático, disse que faria todo o possível para colocar o café completo para nós.
Ao chegarmos, ele pessoalmente estava trabalhando e nos preparou um café da manhã maravilhoso, com muitas opções de pães, doces, sucos.
O agradecemos e elogiamos muito seu atendimento e também a sua atitude e disposição em nos ajudar.

As 07:05 h o comboio estava formado em frente ao Hotel.
Neste momento, houve a “posse” do novo Road Captain.
O Chico, que foi o RC de Blumenau até São Gabriel passou o comando do posto ao Lelê, que seria nosso líder na estrada até o fim do mundo.
Lá atrás, como Cerra Fila*, o  Joaquim.


** Cerra-Fila, ou Ultimo da Fila: É o piloto cuja moto viaja por ultimo no comboio e é responsável por não deixar ninguém na estrada, seja por problemas mecânicos, seja por atrasos durante o deslocamento...
É o piloto que mais sofre durante uma viagem longa  com vários componentes, pois além de ter de cuidar dos últimos membros de um grupo, ainda tem de imprimir um ritmo de viagem com muito maior velocidade, para não deixar o grupo esticar muito. Normalmente, quem viaja como Cerra-Filas, tem de desenvolver uma velocidade 20% maior do que o RC ou quem viaja mais á frente, visto que é muito mais difícil acompanhar o grupo da frente, estando lá atrás.
Assim como o RC, o Cerra-Fila tem um papel importantíssimo em uma viagem em grupo e também uma função nada fácil de ser desempenhada, pois muitas vezes, o grupo lá na frente já chegou ao posto de abastecimento, e o Cerra-Fila está parado na estrada, prestando socorro a algum membro que teve algum problema.
Outro papel fundamental do Cerra-Fila é auxiliar o RC quando em deslocamento dentro de cidades e em rodovias muito movimentadas em que o grupo anda junto.
Cabe a ele, segurar o transito de veículos que vem por trás do comboio, garantindo assim, a segurança do grupo na frente. Neste caso, opera como verdadeiro pára choques traseiro do grupo. É dele que parte a ordem de abrir passagem para carros mais velozes, e cabe a ele também ser o primeiro a voltar para a pista de rolamento, e assim, os da frente voltam na mesma sequencia.
Se algum membro do grupo parar no acostamento por qualquer problema, além do Cerra-Fila, deve parar quem estiver imediatamente atrás do membro que teve problemas, mantendo assim a regra básica de ter sempre 3 pilotos juntos parados na estrada.
Assim como o Road Captain, é errado um membro do grupo ficar atrasando o Cerra-Fila, por motivo que não seja justo. Esta atitude, além de atrasar o deslocamento do comboio, causa grande confusão no grupo de deslocamento, que nunca sabe ao certo, quem ficou para trás. Por exemplo, parar para fumar na estrada é um desrespeito ao ao grupo todo pois o Cerra-Fila  tem de ficar parado á espera do membro que parou por um motivo não essencial.
Quando em deslocamento dentro da cidade, e em motos que possuam rádios PX, é recomendado aos demais membros do comboio que liberem o rádio, dando preferência de falar ao Cerra-Fila e ao Road Captain. Esta atitude simples facilita em muito a condução do comboio dentro de cidades em que nem sempre todo o grupo conseque passar com o sinal verde.
É o Cerra-Filas quem dá a ordem de partida ao Road Captain, depois de paradas para abastecimento e refeições, garantindo assim, que todos estão no comboio.
Nota do Autor.

Saímos em formação, uma moto a direita, outra a esquerda, e assim, sucessivamente.
Esta formação, é a ideal para viagens em grupo, pois  evita colisões traseiras caso o companheiro da frente tenha de frear bruscamente.
Rádios testados, cada um procurando um lugar no comboio que mais lhe confortava.
Interessante a formação inicial do comboio a cada novo dia.
Tirando o Road Captain e o Cerra-Fila, que já expliquei antes suas funções principais e são o primeiro e o último do comboio, os demais, automaticamente buscam um lugar que se sentem mais confortáveis, e muitas vezes, este lugar é repetido por vários e vários dias seguidos, assim como, podem variar de um dia para outro ou mesmo, de uma parada para outra.
Mas é certo que alguns se sentem melhor viajando na mesma posição.
No PHD esta regra de seguir a formação é uma grande lição de como se deve andar em comboio, em um grupo maior.

Uma vez escolhido o seu lugar, é ali que você vai seguir viagem até a próxima parada pelo menos, ou seja, ninguém fica trocando de posição a todo momento, nem ultrapassando o companheiro da frente entre uma parada e outra.

Isto dá uma tranqüilidade e uma segurança muito maior em uma viagem em comboio, pois praticamente sua atenção fica quase que exclusivamente voltada para a pilotagem, atenção em buracos, animais etc, já que a preocupação se algum companheiro esta lhe ultrapassando, praticamente não existe.

Logo na saída, uma neblina intensa tomou conta da estrada, lembrando um dia típico de inverno, embora estivéssemos em pleno verão.

-        Parece que estamos pilotando no céu, vejam que maravilha, disse o Chico.

Naquela penúria e visão quase zero, podíamos ver apenas o sinal fraco da lanterna vermelha da moto á frente, e quando muito, as faixas na estrada, que por sinal estava em obras, dificultando a correta posição na pista.
Seguíamos mais devagar neste trecho, quando começou a cair uma chuva leve.

-        Alguém quer colocar capa de chuva? Pergunta o Chico.
-        Sim eu gostaria, responde Buatim
-        Então vocês podem seguir em frente, eu paro com o Buatim e Ivan, o Joaquim fica comigo, e logo logo, alcançamos vocês.
-        Ok, vamos seguir ao máximo de 80 km/hora, assim vocês logo nos alcançam, determina o Lele.

Não demorou muito, e o Buatim avisa:

-        Já estamos aqui atrás novamente, nos juntando ao comboio.

Para nossa felicidade, foi apenas uma garoa rápida, mas a neblina continuou intensa por mais alguns quilômetros.

-        Que visão fantástica daqui da frente eu tenho, vendo os faróis de todos vocês pelo meu retrovisor, diz o  RC Lelê lá na frente.
-        Pessoal, eu vou passar por vocês pela esquerda, e vou fazer algumas fotos de vocês nesta névoa.
-        Vão ficar sensacionais estas fotos, diz o Chico.

Mais alguns km e a neblina se foi completamente, assim como a garoa.
O sol já aparecia e a perspectiva era de um dia limpo e de muito calor.

Rapidamente, chegamos a Santana do Livramento*, cidade que faz fronteira com Rivera*, no Uruguai.

* Compõe uma única malha com a uruguaia Rivera, onde há free shops de produtos importados. Para mudar de país, basta atravessar uma rua do Centro - não há burocracia.
Fonte: Guia Quatro Rodas.

Apenas uma rua divide os dois países, então, a atravessamos e já estávamos na Republica Oriental do Uruguai, onde rapidamente rumamos para a aduana uruguaia, para os tramites normais de carimbar o passaporte e registrar a entrada da moto.
Não queríamos perder tempo, pois tínhamos muitos km e ainda uma aduana pela frente, até Buenos Aires.

Observar os procedimentos aduaneiros corretos é imperativo em uma viagem, pois ao não fazê-lo, e chegando ao próximo passo fronteiriço, é certo de que os fiscais o obrigarão a retornar, quando não, poderão prender o veículo, causando grande dor de cabeça e atrasos ao grupo.
Então, toda documentação tem de estar rigorosamente em dia.
Recomenda-se uma revisão completa nos documentos antes de sair para que estes trâmites possam ser feitos de maneira correta e sem riscos.

O Lelê, ao apresentar o documento ao fiscal, foi informado que teria de pagar uma multa em dinheiro, por não ter dado baixa na sua saída, quando visitou o país na última vez.
Isto comprova a importância dos procedimentos serem feitos sempre de maneira mais correta possível.

A aduana em Rivera é muito simples e está instalada em pequeno prédio.
Como era manhã de domingo e chegamos havia recém aberto, não havia ninguém além das 8 motos estacionadas em frente e uns poucos cambistas á espera de algum turista disposto a trocar algum dinheiro.

O meu procedimento foi rápido, carimbo no passaporte e registro de entrada da moto no país.
Ao sair, me deparo com o Toninho e Joaquim, ambos sentados numa mureta, já fora da aduana, e o Toninho muito, mas muito contrariado e com um olhar extremamente triste.

-        O que aconteceu Toninho?
-        Pires, você não vai acreditar, o meu passaporte está vencido.
-        Como assim vencido?
-        Pires, peguei o documento mas não percebi que ele estava vencido.
-        Sem problemas Toninho, pois em todo Mercosul, eles aceitam a nossa carteira de identidade.
-        Pois é... eu não trouxe a minha identidade... estou “sem lenço e sem documentos”.

Uma atmosfera terrível tomou conta do grupo todo, pois nem havíamos saído do Brasil, e já teríamos uma baixa?
E o Toninho era um dos mais animados com a viagem, e não poderia ficar de fora.
O que fazer?

Uma das alternativas seria o grupo seguir em frente, Toninho e mais dois do grupo ficariam em Santana do Livramento, enquanto o documento seria enviado de Campo Grande, via aérea.
Em um ou dois dias estariam na estrada, correndo atrás do grupo principal.
Mas jamais nos alcançariam, mesmo que rodando muito mais do que o grupo da frente, viajaríamos todo o percurso como gato e rato.
Abandonamos esta alternativa, quando um dos nossos, disse o seguinte:

-        Ou vamos todos juntos, ou todos ficamos aqui.
-        Não vamos abandonar o Toninho e vamos conseguir uma alternativa.
-        Só sairemos daqui com o Toninho e o documento junto com ele.

PHD é assim, acredita que nada é impossível, principalmente quando se tem amigos conosco que não te abandonam jamais.

Pontualmente as 13:00 horas estávamos todos estacionados novamente na frente da aduana uruguaia, e com todas as motos juntas, e o Toninho de passaporte novo.

- Nunca vimos isto acontecer antes, comenta o atendente do outro lado do balcão, enquanto carimbava o documento do Toninho, que a esta altura, voltava a ser feliz.

Contamos aqui só o milagre, mas não podemos contar o Santo.

O atraso de 4 horas entendemos como providencial pelo nosso Guia Maior lá de cima, nosso Senhor dos Tempos, que resolveu atrasar nossa saída, pois entendemos o Seu recado de que era para sairmos um pouco mais tarde do que o previsto.
Era um sinal claríssimo de que Ele nos havia livrado de algum problema maior lá na frente.
Se ia ou não acontecer algo, nunca saberemos.

Este acontecimento, no início da viagem serviu para unir o grupo ainda mais e comprovar que um PHD vai até o fim, e nunca desiste e que aquele ditado que diz que a união faz a força, foi por nós comprovado que funciona de fato.

-        Ô Toninho, tá na escuta?
-        Sim, pode falar Joaquim.
-        Mas você estava com uma cara de “vaca laçada” naquela aduana heim?
-        Heim?
-        Como?
-        Não ouvi direito Joaquim, o rádio esta com interferência... tchau...
-        Ô Joaquim, explica este negócio de vaca laçada?
-        É que quando você laça uma vaca ou boi, ele fica com a mesma cara que o Toninho estava na aduana.
-        Fica triste, olhar perdido.

E rimos bastante por um bom trecho, embora achamos que o Toninho estava com o rádio desligado, pois não houve reação por parte dele.
Acho, inclusive, que só agora que ele ler este capítulo, vai saber o quanto nos divertimos com o ocorrido.

Toninho, saiba que o grupo não seguiria viagem sem você, e não te abandonaríamos jamais naquele lugar.



Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho Cap 18 - Deixando o Brasil


Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho
Cap 18 - Deixando o Brasil

Dia 26 de Dezembro de 2009. Finalmente o dia da partida.
O primeiro do grupo a ligar a moto e tomar o rumo do sul foi o Beber de Blumenau, que viajou no dia 23 até Torres-RS, para passar o Natal com seus familiares e nos aguardaria na estrada no dia 26.

Os próximos a se despedirem de seus familiares foram o Joaquim e Toninho que saíram de Campo Grande ao meio dia do dia 25 de Dezembro.
Suas motos estavam guardadas em minha casa em Blumenau.

Eu saí da casa de meus parentes em Itu-SP também ao meio dia do dia 25, e me encontrei com o Toninho e Joaquim no aeroporto de Viracopos em Campinas-SP, onde pegamos o mesmo vôo com destino a Navegantes e depois Blumenau.

Na chegada ao aeroporto em Navegantes, a primeira demonstração de companheirismo, com os amigos Chico, mais o Bogo e Hilário e suas respectivas queridas, que nos aguardavam com cartazes de boas vindas, e com isso, já preparando o clima festivo que deverá nortear o nosso grupo ao longo desta nossa viagem.

Os últimos preparativos e checagens de alguns itens ainda foram feitos em minha casa na noite do dia 25, quando finalmente as motos estavam prontas estacionadas na garagem.
Três motos carregadas, abastecidas, aguardando seus pilotos darem a arrancada no motor no dia seguinte, bem cedo.

Um jantar leve, preparado por mim e servido aos meus convidados Toninho e Joaquim, um bom vinho e conversamos um pouco.
Estávamos cansados pela correria do dia.
Já próximo da meia noite, nos despedimos e fomos dormir.

Como já anunciado, o sono demorou a chegar em um misto de alegria, tensão
e ansiedade.
A noite passou rápida como nunca e logo, estávamos todos de pé, vestidos e prontos para a partida.
Café rápido e fomos ao encontro de nossos cavalos mecânicos, que pareciam nos dizer:

-        Até que enfim vamos sair, pois já não agüentávamos mais tanta espera !
-        Afinal, estamos de sapatos novos, abastecidas, revisadas.
-        Estamos prontas, vamos partir?

Como sempre faço antes de qualquer saída, fiz minha primeira oração ao lado da minha moto. Pedi proteção e que Deus olhasse por mim e pelos meus amigos em toda a viagem.
Que voltássemos todos inteiros, alegres e cheios de histórias para contar.
Que cada quilômetro tivesse a Sua proteção e que em cada curva, Ele estivesse ao nosso lado.

Pontualmente as 06:00 horas do dia 26 de Dezembro de 2009, enquanto tirávamos as nossas motos da garagem, ouvimos o ronco da moto do MacGyver se aproximando de casa.
Havíamos combinado o ponto de encontro dos que saíram de Blumenau em frente de casa.
Dei a partida no motor da minha moto, uma ultima olhada para o meu cachorro Zeus, que nos olhava através do portão, levantei o descanso da moto, e acelerei firme.
Era o início da nossa jornada ao fim do mundo.
Pela frente, muitos quilômetros nos aguardavam.

Os quatro motores roncando juntos quebravam o silêncio daquela manhã, que pela chuva da noite anterior, permanecia ainda com uma neblina leve e fresca.
O “trem”, finalmente, começava a ser formado.

Em Itajaí,  nosso RC (Road Captain) Chico nos aguardava ás margens da BR 101.
Mais alguns km à frente, em Balneário Camboriú, Buatim e Ivan juntavam-se ao comboio.

O primeiro abastecimento fizemos em Laguna, já no sul do estado e próximo da fronteira com o Rio Grande do Sul.
A tensão inicial depois de 252 km percorridos, ainda não havia passado, e isto demora mesmo um pouco a passar.
È como um sonho, demora um pouco para que se aperceba da realidade.

No segundo abastecimento, já em Torres-RS e com um calor muito forte, o Beber nos aguardava para seguirmos até São Gabriel*, o nosso primeiro pernoite e onde o  Lelê iria nos esperar, visto que rumou direto de Chapecó para lá.

* São Gabriel é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul. Sua população estimada em 2009 era de 62.596 habitantes. É uma cidade histórica do interior do Rio Grande do Sul e está localizada no pampa gaúcho, junto à BR-290 a 320 km de distância da capital Porto Alegre, na região da Campanha, próximo da fronteira com o Uruguai.
Fonte: Wikipédia

Viagem tranqüila até próximo a São Gabriel, onde tivemos nosso primeiro encontro com a natureza e também o primeiro teste do grupo, como que programado.
Uma forte tormenta nos pegou na estrada, uma verdadeira bomba d’ água, anunciando que aquilo era apenas o começo.

E a chuva veio forte, muito forte, talvez para lavar nossas almas e nossos problemas do cotidiano que ainda insistiam em nos acompanhar.

O primeiro teste para o grupo, parar as motos no acostamento e, rapidamente, colocar as roupas de chuva.
Não é fácil colocar roupas de chuva por cima de roupas pesadas como cordura ou couro.

Parecia evidente a cooperação do grupo, seja no momento em que nos ajudamos uns aos outros ao colocar rapidamente as roupas de chuva á tempo de nos proteger, seja pela troca de informações ao longo deste primeiro percurso, pelos avisos dados uns aos outros pelos nossos rádios PX, onde procuramos orientar uns aos outros sobre a melhor forma de condução, ou alertando sobre um buraco ou acúmulo de água na pista.

Na chegada a São Gabriel, uma cena espetacular traçou o céu a nossa frente.

A tormenta havia passado e o céu voltava a ficar azul.
Ao fundo, no horizonte, o anúncio de um por do sol espetacular, em tons avermelhados e brilhantes.
Diante deste cenário, um bando de pássaros voando de oeste a leste, cortou o céu a nossa frente.
À frente, um líder mostrando o rumo a seguir e lá atrás, o ultimo deles, como que cuidando de todo o bando.

Era exatamente a mesma formação da cena do nosso grupo aqui embaixo.
Os mais experientes liderando os menos experientes.
Na retaguarda, como que cuidando do bando todo, o Joaquim garantia que ninguém ficaria para traz.

Sinal de que em toda viagem, seja ela de um bando de pássaros a voar para o ninho e passar a noite em segurança ou em um bando de amigos motociclistas rumando ao fim do mundo, o mais importante é a formação e o respeito ao grupo.
Os que mais sabem, orientam os outros de qual o melhor caminho a seguir, para que possamos, também nós, chegar em segurança de volta para casa.
Aquela cena me marcou muito, e ficará para sempre como um sinal de que, a natureza é sábia e dela podemos tirar muitas lições e aprendizados.
Basta que tenhamos olhos para ver e ouvidos para ouvir.
E saber interpretar os sinais que ela emite.
Sábio, é aquele que consegue ver e aprender com a mãe natureza.
Todo motociclista de verdade, é antes de tudo, um sábio.