sábado, 15 de setembro de 2012

Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho Cap 18 - Deixando o Brasil


Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho
Cap 18 - Deixando o Brasil

Dia 26 de Dezembro de 2009. Finalmente o dia da partida.
O primeiro do grupo a ligar a moto e tomar o rumo do sul foi o Beber de Blumenau, que viajou no dia 23 até Torres-RS, para passar o Natal com seus familiares e nos aguardaria na estrada no dia 26.

Os próximos a se despedirem de seus familiares foram o Joaquim e Toninho que saíram de Campo Grande ao meio dia do dia 25 de Dezembro.
Suas motos estavam guardadas em minha casa em Blumenau.

Eu saí da casa de meus parentes em Itu-SP também ao meio dia do dia 25, e me encontrei com o Toninho e Joaquim no aeroporto de Viracopos em Campinas-SP, onde pegamos o mesmo vôo com destino a Navegantes e depois Blumenau.

Na chegada ao aeroporto em Navegantes, a primeira demonstração de companheirismo, com os amigos Chico, mais o Bogo e Hilário e suas respectivas queridas, que nos aguardavam com cartazes de boas vindas, e com isso, já preparando o clima festivo que deverá nortear o nosso grupo ao longo desta nossa viagem.

Os últimos preparativos e checagens de alguns itens ainda foram feitos em minha casa na noite do dia 25, quando finalmente as motos estavam prontas estacionadas na garagem.
Três motos carregadas, abastecidas, aguardando seus pilotos darem a arrancada no motor no dia seguinte, bem cedo.

Um jantar leve, preparado por mim e servido aos meus convidados Toninho e Joaquim, um bom vinho e conversamos um pouco.
Estávamos cansados pela correria do dia.
Já próximo da meia noite, nos despedimos e fomos dormir.

Como já anunciado, o sono demorou a chegar em um misto de alegria, tensão
e ansiedade.
A noite passou rápida como nunca e logo, estávamos todos de pé, vestidos e prontos para a partida.
Café rápido e fomos ao encontro de nossos cavalos mecânicos, que pareciam nos dizer:

-        Até que enfim vamos sair, pois já não agüentávamos mais tanta espera !
-        Afinal, estamos de sapatos novos, abastecidas, revisadas.
-        Estamos prontas, vamos partir?

Como sempre faço antes de qualquer saída, fiz minha primeira oração ao lado da minha moto. Pedi proteção e que Deus olhasse por mim e pelos meus amigos em toda a viagem.
Que voltássemos todos inteiros, alegres e cheios de histórias para contar.
Que cada quilômetro tivesse a Sua proteção e que em cada curva, Ele estivesse ao nosso lado.

Pontualmente as 06:00 horas do dia 26 de Dezembro de 2009, enquanto tirávamos as nossas motos da garagem, ouvimos o ronco da moto do MacGyver se aproximando de casa.
Havíamos combinado o ponto de encontro dos que saíram de Blumenau em frente de casa.
Dei a partida no motor da minha moto, uma ultima olhada para o meu cachorro Zeus, que nos olhava através do portão, levantei o descanso da moto, e acelerei firme.
Era o início da nossa jornada ao fim do mundo.
Pela frente, muitos quilômetros nos aguardavam.

Os quatro motores roncando juntos quebravam o silêncio daquela manhã, que pela chuva da noite anterior, permanecia ainda com uma neblina leve e fresca.
O “trem”, finalmente, começava a ser formado.

Em Itajaí,  nosso RC (Road Captain) Chico nos aguardava ás margens da BR 101.
Mais alguns km à frente, em Balneário Camboriú, Buatim e Ivan juntavam-se ao comboio.

O primeiro abastecimento fizemos em Laguna, já no sul do estado e próximo da fronteira com o Rio Grande do Sul.
A tensão inicial depois de 252 km percorridos, ainda não havia passado, e isto demora mesmo um pouco a passar.
È como um sonho, demora um pouco para que se aperceba da realidade.

No segundo abastecimento, já em Torres-RS e com um calor muito forte, o Beber nos aguardava para seguirmos até São Gabriel*, o nosso primeiro pernoite e onde o  Lelê iria nos esperar, visto que rumou direto de Chapecó para lá.

* São Gabriel é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul. Sua população estimada em 2009 era de 62.596 habitantes. É uma cidade histórica do interior do Rio Grande do Sul e está localizada no pampa gaúcho, junto à BR-290 a 320 km de distância da capital Porto Alegre, na região da Campanha, próximo da fronteira com o Uruguai.
Fonte: Wikipédia

Viagem tranqüila até próximo a São Gabriel, onde tivemos nosso primeiro encontro com a natureza e também o primeiro teste do grupo, como que programado.
Uma forte tormenta nos pegou na estrada, uma verdadeira bomba d’ água, anunciando que aquilo era apenas o começo.

E a chuva veio forte, muito forte, talvez para lavar nossas almas e nossos problemas do cotidiano que ainda insistiam em nos acompanhar.

O primeiro teste para o grupo, parar as motos no acostamento e, rapidamente, colocar as roupas de chuva.
Não é fácil colocar roupas de chuva por cima de roupas pesadas como cordura ou couro.

Parecia evidente a cooperação do grupo, seja no momento em que nos ajudamos uns aos outros ao colocar rapidamente as roupas de chuva á tempo de nos proteger, seja pela troca de informações ao longo deste primeiro percurso, pelos avisos dados uns aos outros pelos nossos rádios PX, onde procuramos orientar uns aos outros sobre a melhor forma de condução, ou alertando sobre um buraco ou acúmulo de água na pista.

Na chegada a São Gabriel, uma cena espetacular traçou o céu a nossa frente.

A tormenta havia passado e o céu voltava a ficar azul.
Ao fundo, no horizonte, o anúncio de um por do sol espetacular, em tons avermelhados e brilhantes.
Diante deste cenário, um bando de pássaros voando de oeste a leste, cortou o céu a nossa frente.
À frente, um líder mostrando o rumo a seguir e lá atrás, o ultimo deles, como que cuidando de todo o bando.

Era exatamente a mesma formação da cena do nosso grupo aqui embaixo.
Os mais experientes liderando os menos experientes.
Na retaguarda, como que cuidando do bando todo, o Joaquim garantia que ninguém ficaria para traz.

Sinal de que em toda viagem, seja ela de um bando de pássaros a voar para o ninho e passar a noite em segurança ou em um bando de amigos motociclistas rumando ao fim do mundo, o mais importante é a formação e o respeito ao grupo.
Os que mais sabem, orientam os outros de qual o melhor caminho a seguir, para que possamos, também nós, chegar em segurança de volta para casa.
Aquela cena me marcou muito, e ficará para sempre como um sinal de que, a natureza é sábia e dela podemos tirar muitas lições e aprendizados.
Basta que tenhamos olhos para ver e ouvidos para ouvir.
E saber interpretar os sinais que ela emite.
Sábio, é aquele que consegue ver e aprender com a mãe natureza.
Todo motociclista de verdade, é antes de tudo, um sábio.





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