Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho
Cap 20 - Os céus do Uruguai
Após os trâmites de
entrada e depois de resolvermos o problema do Toninho, adentramos em território
Uruguaio por volta das 13 horas, com céu claro e muito calor.
Devagarzinho, a
paisagem foi se transformando à nossa frente, e uma sensação diferente ia
tomando conta de cada um de nós, pois pilotar a moto em território que não o
brasileiro, causa em cada piloto, uma sensação indescritível.
À medida que
avançávamos, o que mais nos chamava a atenção era o céu Uruguaio.
Que maravilhoso!!
Aos poucos, fomos
todos sendo envolvidos por um imenso azul, indescritível e largas planícies a
perder de vista. Naquele momento, sabíamos que estávamos iniciando de fato,
nossa peregrinação para o Fim do Mundo.
E o Fim do Mundo
começava daquele jeito, um céu maravilhosamente lindo.
Os rádios, todos
eles, permaneciam mudos, como se todos nós tivéssemos entrado em um transe e
contemplávamos, cada um a seu jeito, a grandeza e a maravilha que se abria a
cada km, a nossa volta.
Em pouco tempo, não
importava para que lado direcionasse o meu olhar, era tudo azul, imenso,
profundo, como se estivesse em uma redoma gigantesca de vidro, finamente
decorada a nos abraçar e a nos proteger.
O barulho das 8
motos contrastava com o silencio das longas retas das estradas da Republica
Oriental do Uruguai e, aos poucos, ia percebendo que o “elástico da viagem”,
começava a se esticar ao me distanciar de minha casa e de meus queridos.
O Lelê, nosso Road
Captain, com a duríssima missão de nos conduzir com segurança até nosso
destino final.
O Chico viajava
logo atrás, no papel de orientador, usando sua longa experiência em viagens.
No final da fila,
nosso queridíssimo Joaquim, com a também duríssima missão de fechar a fila,
cuidando da retaguarda do comboio, para que nada de mal pudesse nos acontecer.
E assim, abençoados
por Deus e protegidos por competentes viajantes, o comboio se deslocava
rapidamente, cortando as planícies do Uruguai.
Foi então, que o RC
Lelê, com a voz embargada pela emoção que estava sentindo por liderar a
expedição, ousou dizer no rádio a todos nós:
-
Obrigado Senhor dos Tempos, por esta visão
maravilhosa que estamos tendo,
-
Obrigado por estarmos aqui e obrigado pelo
privilégio de estar a frente de todos vocês.
-
É um orgulho para mim estar aqui a frente,
liderando este grupo maravilhoso.
-
Que Deus nos acompanhe.
A viagem ao fim do
mundo começava assim, linda, maravilhosamente linda e aos poucos, ia tirando a
crosta acumulada das preocupações do nosso dia a dia, que nos veste a todos nós
como uma “carcaça” dura.
O viajar é isto,
antes de tudo, uma oportunidade para tirarmos esta “casca” e nos tornarmos nós
mesmos, sermos na essência o que sempre fomos, mas que o dia a dia não nos
permite demonstrar.
E você sente muito
mais isto estando em cima de uma moto, com o vento ao rosto, o cheiro da terra,
o gosto da água, o som do vento, sentindo no guidão a aspereza das rodas
tocando o asfalto.
Você e a moto são
neste momento, um só e moto/homem/natureza, unidos e abençoados por uma
atmosfera exuberante.
Isto é, em sua
essência, o viajar de moto.
Chegamos a
Paysandu, fronteira com a Argentina e encontramos uma fila enorme de carros e
caminhões que aguardavam para a passagem.
Um sol de rachar
também se fazia presente, e resolvemos passar adiante, avançando as motos pelo
corredor formado pelos carros e caminhões em uma manobra muito normal no
Brasil.
Como as motos eram
todas grandes, passávamos apertado, mas sempre contando com a compreensão dos
motoristas.
Menos a compreensão
de um deles.
Um senhor, de uns
60 anos mais ou menos, carrancudo, abriu a porta do carro e impediu a passagem
do comboio.
O RC Lelê,
que seguia á frente, argumentava que estávamos no sol, que iríamos aguardar na
sombra mais á frente, tudo isto com educação.
E nada do senhor
abrir passagem.
Com muito jeito,
conseguiu convencê-lo, não depois da própria esposa do senhor sinalizar a ele
que não tinha sentido o que ele estava fazendo.
Na aduana, os
procedimentos de praxe, e já estávamos viajando em território argentino.
Chegamos em Zarate,
a 85 km de Buenos Aires, e dois amigos nossos, os PHD’s Gica, brasileiro que
vive hoje em Buenos Aires, e Sábio, um argentino, que nos aguardavam, logo após
o pedágio para nos guiar dali em diante até o nosso hotel, no centro de Buenos
Aires.
A chegada em Buenos
Aires no final de um domingo é muito complicada, trânsito pesado, muitos carros
retornando á Capital Federal.
Mas o comboio,
agora com 10 motos se deslocava muito rápido, nas excelentes auto pistas
argentinas e rapidamente, nos encontrávamos frente ao Obelisco, marco da cidade
e muito próximo do nosso hotel.
Na recepção
preparada pelos amigos Gica e Sábio, um delicioso jantar em um restaurante na
capital portenha com direito a sorteio de brindes.
Um boné e uma
camiseta oferecidos pelos amigos e que foram ganhos pelo Toninho e Joaquim,
respectivamente.
O dia de hoje foi
espetacular.
O grupo foi testado
pela primeira vez, na aduana, e se mostrou mais unido do que nunca.
Os céus do Uruguai
são fantásticos.
Os amigos nos
receberam e nos deram toda atenção e companheirismo aqui em Bs Aires, nos
fazendo sentirmos em nossas próprias casas.
Agora seria
descansar, para amanhã cedo partir rumo a Bahia Blanca, a ruta 3 nos aguarda e
todos estamos ansiosos para iniciar a nossa descida.
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