sábado, 15 de setembro de 2012

Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho Cap 20 - Os céus do Uruguai


Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho
Cap 20 - Os céus do Uruguai


Após os trâmites de entrada e depois de resolvermos o problema do Toninho, adentramos em território Uruguaio por volta das 13 horas, com céu claro e muito calor.

Devagarzinho, a paisagem foi se transformando à nossa frente, e uma sensação diferente ia tomando conta de cada um de nós, pois pilotar a moto em território que não o brasileiro, causa em cada piloto, uma sensação indescritível.
À medida que avançávamos, o que mais nos chamava a atenção era o céu Uruguaio.

Que maravilhoso!!

Aos poucos, fomos todos sendo envolvidos por um imenso azul, indescritível e largas planícies a perder de vista. Naquele momento, sabíamos que estávamos iniciando de fato, nossa peregrinação para o Fim do Mundo.

E o Fim do Mundo começava daquele jeito, um céu maravilhosamente lindo.
Os rádios, todos eles, permaneciam mudos, como se todos nós tivéssemos entrado em um transe e contemplávamos, cada um a seu jeito, a grandeza e a maravilha que se abria a cada km, a nossa volta.

Em pouco tempo, não importava para que lado direcionasse o meu olhar, era tudo azul, imenso, profundo, como se estivesse em uma redoma gigantesca de vidro, finamente decorada a nos abraçar e a nos proteger.

O barulho das 8 motos contrastava com o silencio das longas retas das estradas da Republica Oriental do Uruguai e, aos poucos, ia percebendo que o “elástico da viagem”, começava a se esticar ao me distanciar de minha casa e de meus queridos.

O Lelê, nosso Road Captain, com a duríssima missão de nos conduzir com segurança até nosso destino final.
O Chico viajava logo atrás, no papel de orientador, usando sua longa experiência em viagens.
No final da fila, nosso queridíssimo Joaquim, com a também duríssima missão de fechar a fila, cuidando da retaguarda do comboio, para que nada de mal pudesse nos acontecer.

E assim, abençoados por Deus e protegidos por competentes viajantes, o comboio se deslocava rapidamente, cortando as planícies do Uruguai.

Foi então, que o RC Lelê, com a voz embargada pela emoção que estava sentindo por liderar a expedição, ousou dizer no rádio a todos nós:

-        Obrigado Senhor dos Tempos, por esta visão maravilhosa que estamos tendo,
-        Obrigado por estarmos aqui e obrigado pelo privilégio de estar a frente de todos vocês.
-        É um orgulho para mim estar aqui a frente, liderando este grupo maravilhoso.
-        Que Deus nos acompanhe.

A viagem ao fim do mundo começava assim, linda, maravilhosamente linda e aos poucos, ia tirando a crosta acumulada das preocupações do nosso dia a dia, que nos veste a todos nós como uma “carcaça” dura.

O viajar é isto, antes de tudo, uma oportunidade para tirarmos esta “casca” e nos tornarmos nós mesmos, sermos na essência o que sempre fomos, mas que o dia a dia não nos permite demonstrar.

E você sente muito mais isto estando em cima de uma moto, com o vento ao rosto, o cheiro da terra, o gosto da água, o som do vento, sentindo no guidão a aspereza das rodas tocando o asfalto.
Você e a moto são neste momento, um só e moto/homem/natureza, unidos e abençoados por uma atmosfera exuberante.
Isto é, em sua essência, o viajar de moto.

Chegamos a Paysandu, fronteira com a Argentina e encontramos uma fila enorme de carros e caminhões que aguardavam para a passagem.
Um sol de rachar também se fazia presente, e resolvemos passar adiante, avançando as motos pelo corredor formado pelos carros e caminhões em uma manobra muito normal no Brasil.
Como as motos eram todas grandes, passávamos apertado, mas sempre contando com a compreensão dos motoristas.
Menos a compreensão de um deles.
Um senhor, de uns 60 anos mais ou menos, carrancudo, abriu a porta do carro e impediu a passagem do comboio.
O RC Lelê, que seguia á frente, argumentava que estávamos no sol, que iríamos aguardar na sombra mais á frente, tudo isto com educação.
E nada do senhor abrir passagem.
Com muito jeito, conseguiu convencê-lo, não depois da própria esposa do senhor sinalizar a ele que não tinha sentido o que ele estava fazendo.

Na aduana, os procedimentos de praxe, e já estávamos viajando em território argentino.
Chegamos em Zarate, a 85 km de Buenos Aires, e dois amigos nossos, os PHD’s Gica, brasileiro que vive hoje em Buenos Aires, e Sábio, um argentino, que nos aguardavam, logo após o pedágio para nos guiar dali em diante até o nosso hotel, no centro de Buenos Aires.
A chegada em Buenos Aires no final de um domingo é muito complicada, trânsito pesado, muitos carros retornando á Capital Federal.
Mas o comboio, agora com 10 motos se deslocava muito rápido, nas excelentes auto pistas argentinas e rapidamente, nos encontrávamos frente ao Obelisco, marco da cidade e muito próximo do nosso hotel.

Na recepção preparada pelos amigos Gica e Sábio, um delicioso jantar em um restaurante na capital portenha com direito a sorteio de brindes.
Um boné e uma camiseta oferecidos pelos amigos e que foram ganhos pelo Toninho e Joaquim, respectivamente.

O dia de hoje foi espetacular.
O grupo foi testado pela primeira vez, na aduana, e se mostrou mais unido do que nunca.
Os céus do Uruguai são fantásticos.
Os amigos nos receberam e nos deram toda atenção e companheirismo aqui em Bs Aires, nos fazendo sentirmos em nossas próprias casas.

Agora seria descansar, para amanhã cedo partir rumo a Bahia Blanca, a ruta 3 nos aguarda e todos estamos ansiosos para iniciar a nossa descida.



























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