Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 15 - Refazendo Minha Bagagem
Hoje, aprendi uma
grande lição, antes mesmo de dar partida na minha moto e de ter andado o
primeiro metro, de uma viagem programada para mais de 12.000 km, e que se
inicia daqui a poucos dias.
A vida profissional
nos forja de maneiras diferentes, e dependendo do tempo desta "forja”, nos
esquecemos de nós mesmos, nos esquecemos de olhar em volta e nos fixamos muitas
vezes, em nossas próprias crenças, e as defendemos como se fossem as únicas.
Tudo começou hoje,
quando estava com o Chico em seu escritório e comentei com ele sobre a lista de
roupas e acessórios que eu havia preparado e da forma como havia arrumado as
bagagens em minha moto.
-
Pires, acho que você poderia circular esta sua
lista para todos os companheiros de viagem.
-
Assim, se alguém estiver esquecendo-se de alguma
coisa, vai lembrar.
-
Faça isto que eu também vou circular a minha.
Pensei um pouco
antes de fazê-lo, mas concluí que poderia ser sim uma boa idéia de enviar uma
mensagem aos amigos do grupo, informando a “minha” relação de itens que
pretendia levar em minha bagagem.
Na minha visão
míope, pensei que estaria ajudando aos amigos do grupo em algum item essencial
que porventura eu tinha posto e minha tão bem organizada bagagem, e o amigo
parceiro poderia ter se esquecido.
Pensei que enviando
a minha lista, tão bem pensada, tão colorida, detalhada ao extremo, onde passei
vários dias trabalhando qual seria a melhor maneira de arrumar nas maletas,
onde colocaria cada coisa.
Era como em um
projeto, detalhado, pensado nos detalhes minuciosos.
Na manhã seguinte,
abrindo o correio eletrônico, algumas respostas ao que foi enviado puderam ser
lidas e logo me apressei em abri-las, pois agora, eu poderia ter me esquecido
de algo e enfim, iria me socorrer.
Dentre elas, uma
resposta que eu jamais esperava, e que me ensinou uma lição, a primeira delas,
nesta nossa viagem.
Havia sido escrita
e enviada pelo Beber, e dizia o seguinte:
De: Beber
Assunto:RE: Minha Bagagem
Amigos.
Ontem à noite
resolvi arrumar minha bagagem.
Parei em frente ao
armário, olhei para as bolsas da Harley e fiquei imaginando o que levar para
essa viagem.
Separei uns
"trapos" já surrados para jogar no lombo, apartei um bom escocês e
alguns Cohibas.
De resto, enchi os
alforjes com muita amizade, parceria, tolerância e fraternidade.
Achei um espaço
naquele porta trecos que vai ali na frente, perto da "bolha". Não é
muito espaçoso, e lá consegui colocar os pequenos desassossegos que me
perturbam, os vícios que luto para me desapegar, os sentimentos mesquinhos que
por vezes me invadem. No silêncio da estrada, entrecortado apenas pelos sons da
natureza, encontrarei o ambiente ideal para deles me desfazer. Escolherei um
local bem longe daqui, onde ninguém possa encontrá-los. Desapegando-me dessas
deformações que me importunam, arrumarei novos espaços, não mais na bagagem,
mas no meu coração, e nele pretendo armazenar ta energia positiva, as boas
lições, o aprendizado e a amizade de todos vocês.
Em resumo, é isso
que estou levando...
Forte abraço.
PHD Beber
Li o texto acima
algumas vezes durante o dia, e refleti muito.
Chegando em casa,
me sentei em frente a minha moto, e por longo tempo olhei fixamente para as
malas já arrumadas nos bagageiros.
Tinha arrumado tudo
o que imaginava fosse necessário para o conforto e segurança do meu corpo.
Mas havia me
esquecido o principal, da minha alma, da oportunidade da renovação espiritual,
de deixar as coisas ruins bem longe, de refletir sobre pontos que precisam ser
trabalhados em mim mesmo.
Não me restou outra
alternativa a não ser refazer minha bagagem.
Obrigado ao Beber,
por ter me ensinado a primeira lição desta viagem, antes mesmo de dar a partida
na minha moto.
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