sábado, 15 de setembro de 2012

Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho Cap 20 - Os céus do Uruguai


Ushuaia – Duas Rodas e Um Sonho
Cap 20 - Os céus do Uruguai


Após os trâmites de entrada e depois de resolvermos o problema do Toninho, adentramos em território Uruguaio por volta das 13 horas, com céu claro e muito calor.

Devagarzinho, a paisagem foi se transformando à nossa frente, e uma sensação diferente ia tomando conta de cada um de nós, pois pilotar a moto em território que não o brasileiro, causa em cada piloto, uma sensação indescritível.
À medida que avançávamos, o que mais nos chamava a atenção era o céu Uruguaio.

Que maravilhoso!!

Aos poucos, fomos todos sendo envolvidos por um imenso azul, indescritível e largas planícies a perder de vista. Naquele momento, sabíamos que estávamos iniciando de fato, nossa peregrinação para o Fim do Mundo.

E o Fim do Mundo começava daquele jeito, um céu maravilhosamente lindo.
Os rádios, todos eles, permaneciam mudos, como se todos nós tivéssemos entrado em um transe e contemplávamos, cada um a seu jeito, a grandeza e a maravilha que se abria a cada km, a nossa volta.

Em pouco tempo, não importava para que lado direcionasse o meu olhar, era tudo azul, imenso, profundo, como se estivesse em uma redoma gigantesca de vidro, finamente decorada a nos abraçar e a nos proteger.

O barulho das 8 motos contrastava com o silencio das longas retas das estradas da Republica Oriental do Uruguai e, aos poucos, ia percebendo que o “elástico da viagem”, começava a se esticar ao me distanciar de minha casa e de meus queridos.

O Lelê, nosso Road Captain, com a duríssima missão de nos conduzir com segurança até nosso destino final.
O Chico viajava logo atrás, no papel de orientador, usando sua longa experiência em viagens.
No final da fila, nosso queridíssimo Joaquim, com a também duríssima missão de fechar a fila, cuidando da retaguarda do comboio, para que nada de mal pudesse nos acontecer.

E assim, abençoados por Deus e protegidos por competentes viajantes, o comboio se deslocava rapidamente, cortando as planícies do Uruguai.

Foi então, que o RC Lelê, com a voz embargada pela emoção que estava sentindo por liderar a expedição, ousou dizer no rádio a todos nós:

-        Obrigado Senhor dos Tempos, por esta visão maravilhosa que estamos tendo,
-        Obrigado por estarmos aqui e obrigado pelo privilégio de estar a frente de todos vocês.
-        É um orgulho para mim estar aqui a frente, liderando este grupo maravilhoso.
-        Que Deus nos acompanhe.

A viagem ao fim do mundo começava assim, linda, maravilhosamente linda e aos poucos, ia tirando a crosta acumulada das preocupações do nosso dia a dia, que nos veste a todos nós como uma “carcaça” dura.

O viajar é isto, antes de tudo, uma oportunidade para tirarmos esta “casca” e nos tornarmos nós mesmos, sermos na essência o que sempre fomos, mas que o dia a dia não nos permite demonstrar.

E você sente muito mais isto estando em cima de uma moto, com o vento ao rosto, o cheiro da terra, o gosto da água, o som do vento, sentindo no guidão a aspereza das rodas tocando o asfalto.
Você e a moto são neste momento, um só e moto/homem/natureza, unidos e abençoados por uma atmosfera exuberante.
Isto é, em sua essência, o viajar de moto.

Chegamos a Paysandu, fronteira com a Argentina e encontramos uma fila enorme de carros e caminhões que aguardavam para a passagem.
Um sol de rachar também se fazia presente, e resolvemos passar adiante, avançando as motos pelo corredor formado pelos carros e caminhões em uma manobra muito normal no Brasil.
Como as motos eram todas grandes, passávamos apertado, mas sempre contando com a compreensão dos motoristas.
Menos a compreensão de um deles.
Um senhor, de uns 60 anos mais ou menos, carrancudo, abriu a porta do carro e impediu a passagem do comboio.
O RC Lelê, que seguia á frente, argumentava que estávamos no sol, que iríamos aguardar na sombra mais á frente, tudo isto com educação.
E nada do senhor abrir passagem.
Com muito jeito, conseguiu convencê-lo, não depois da própria esposa do senhor sinalizar a ele que não tinha sentido o que ele estava fazendo.

Na aduana, os procedimentos de praxe, e já estávamos viajando em território argentino.
Chegamos em Zarate, a 85 km de Buenos Aires, e dois amigos nossos, os PHD’s Gica, brasileiro que vive hoje em Buenos Aires, e Sábio, um argentino, que nos aguardavam, logo após o pedágio para nos guiar dali em diante até o nosso hotel, no centro de Buenos Aires.
A chegada em Buenos Aires no final de um domingo é muito complicada, trânsito pesado, muitos carros retornando á Capital Federal.
Mas o comboio, agora com 10 motos se deslocava muito rápido, nas excelentes auto pistas argentinas e rapidamente, nos encontrávamos frente ao Obelisco, marco da cidade e muito próximo do nosso hotel.

Na recepção preparada pelos amigos Gica e Sábio, um delicioso jantar em um restaurante na capital portenha com direito a sorteio de brindes.
Um boné e uma camiseta oferecidos pelos amigos e que foram ganhos pelo Toninho e Joaquim, respectivamente.

O dia de hoje foi espetacular.
O grupo foi testado pela primeira vez, na aduana, e se mostrou mais unido do que nunca.
Os céus do Uruguai são fantásticos.
Os amigos nos receberam e nos deram toda atenção e companheirismo aqui em Bs Aires, nos fazendo sentirmos em nossas próprias casas.

Agora seria descansar, para amanhã cedo partir rumo a Bahia Blanca, a ruta 3 nos aguarda e todos estamos ansiosos para iniciar a nossa descida.



























Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho Cap 19 – Com cara de Vaca Laçada


Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho
Cap 19 – Com cara de Vaca Laçada

Acordamos bem cedo neste dia e pela janela do quarto, vi que havia chovido muito a noite toda em São Gabriel e pelo visto, em toda região.
Carregamos as motos e fomos ao restaurante onde tomamos um excepcional café da manhã, preparado pelo simpático senhor dono do restaurante, que nos fez a gentileza de abrir o refeitório as 06:30 h, quando que o habitual é abri-lo á partir das 07:00h.
Se consegue muitas coisas em se pedindo com boa educação, e a abertura do restaurante antes do horário, foi um bom exemplo.
Pedimos na noite anterior para tomarmos café mais cedo, explicando da nossa viagem e da necessidade de pegarmos a estrada.
O dono do restaurante, um senhor simpático, disse que faria todo o possível para colocar o café completo para nós.
Ao chegarmos, ele pessoalmente estava trabalhando e nos preparou um café da manhã maravilhoso, com muitas opções de pães, doces, sucos.
O agradecemos e elogiamos muito seu atendimento e também a sua atitude e disposição em nos ajudar.

As 07:05 h o comboio estava formado em frente ao Hotel.
Neste momento, houve a “posse” do novo Road Captain.
O Chico, que foi o RC de Blumenau até São Gabriel passou o comando do posto ao Lelê, que seria nosso líder na estrada até o fim do mundo.
Lá atrás, como Cerra Fila*, o  Joaquim.


** Cerra-Fila, ou Ultimo da Fila: É o piloto cuja moto viaja por ultimo no comboio e é responsável por não deixar ninguém na estrada, seja por problemas mecânicos, seja por atrasos durante o deslocamento...
É o piloto que mais sofre durante uma viagem longa  com vários componentes, pois além de ter de cuidar dos últimos membros de um grupo, ainda tem de imprimir um ritmo de viagem com muito maior velocidade, para não deixar o grupo esticar muito. Normalmente, quem viaja como Cerra-Filas, tem de desenvolver uma velocidade 20% maior do que o RC ou quem viaja mais á frente, visto que é muito mais difícil acompanhar o grupo da frente, estando lá atrás.
Assim como o RC, o Cerra-Fila tem um papel importantíssimo em uma viagem em grupo e também uma função nada fácil de ser desempenhada, pois muitas vezes, o grupo lá na frente já chegou ao posto de abastecimento, e o Cerra-Fila está parado na estrada, prestando socorro a algum membro que teve algum problema.
Outro papel fundamental do Cerra-Fila é auxiliar o RC quando em deslocamento dentro de cidades e em rodovias muito movimentadas em que o grupo anda junto.
Cabe a ele, segurar o transito de veículos que vem por trás do comboio, garantindo assim, a segurança do grupo na frente. Neste caso, opera como verdadeiro pára choques traseiro do grupo. É dele que parte a ordem de abrir passagem para carros mais velozes, e cabe a ele também ser o primeiro a voltar para a pista de rolamento, e assim, os da frente voltam na mesma sequencia.
Se algum membro do grupo parar no acostamento por qualquer problema, além do Cerra-Fila, deve parar quem estiver imediatamente atrás do membro que teve problemas, mantendo assim a regra básica de ter sempre 3 pilotos juntos parados na estrada.
Assim como o Road Captain, é errado um membro do grupo ficar atrasando o Cerra-Fila, por motivo que não seja justo. Esta atitude, além de atrasar o deslocamento do comboio, causa grande confusão no grupo de deslocamento, que nunca sabe ao certo, quem ficou para trás. Por exemplo, parar para fumar na estrada é um desrespeito ao ao grupo todo pois o Cerra-Fila  tem de ficar parado á espera do membro que parou por um motivo não essencial.
Quando em deslocamento dentro da cidade, e em motos que possuam rádios PX, é recomendado aos demais membros do comboio que liberem o rádio, dando preferência de falar ao Cerra-Fila e ao Road Captain. Esta atitude simples facilita em muito a condução do comboio dentro de cidades em que nem sempre todo o grupo conseque passar com o sinal verde.
É o Cerra-Filas quem dá a ordem de partida ao Road Captain, depois de paradas para abastecimento e refeições, garantindo assim, que todos estão no comboio.
Nota do Autor.

Saímos em formação, uma moto a direita, outra a esquerda, e assim, sucessivamente.
Esta formação, é a ideal para viagens em grupo, pois  evita colisões traseiras caso o companheiro da frente tenha de frear bruscamente.
Rádios testados, cada um procurando um lugar no comboio que mais lhe confortava.
Interessante a formação inicial do comboio a cada novo dia.
Tirando o Road Captain e o Cerra-Fila, que já expliquei antes suas funções principais e são o primeiro e o último do comboio, os demais, automaticamente buscam um lugar que se sentem mais confortáveis, e muitas vezes, este lugar é repetido por vários e vários dias seguidos, assim como, podem variar de um dia para outro ou mesmo, de uma parada para outra.
Mas é certo que alguns se sentem melhor viajando na mesma posição.
No PHD esta regra de seguir a formação é uma grande lição de como se deve andar em comboio, em um grupo maior.

Uma vez escolhido o seu lugar, é ali que você vai seguir viagem até a próxima parada pelo menos, ou seja, ninguém fica trocando de posição a todo momento, nem ultrapassando o companheiro da frente entre uma parada e outra.

Isto dá uma tranqüilidade e uma segurança muito maior em uma viagem em comboio, pois praticamente sua atenção fica quase que exclusivamente voltada para a pilotagem, atenção em buracos, animais etc, já que a preocupação se algum companheiro esta lhe ultrapassando, praticamente não existe.

Logo na saída, uma neblina intensa tomou conta da estrada, lembrando um dia típico de inverno, embora estivéssemos em pleno verão.

-        Parece que estamos pilotando no céu, vejam que maravilha, disse o Chico.

Naquela penúria e visão quase zero, podíamos ver apenas o sinal fraco da lanterna vermelha da moto á frente, e quando muito, as faixas na estrada, que por sinal estava em obras, dificultando a correta posição na pista.
Seguíamos mais devagar neste trecho, quando começou a cair uma chuva leve.

-        Alguém quer colocar capa de chuva? Pergunta o Chico.
-        Sim eu gostaria, responde Buatim
-        Então vocês podem seguir em frente, eu paro com o Buatim e Ivan, o Joaquim fica comigo, e logo logo, alcançamos vocês.
-        Ok, vamos seguir ao máximo de 80 km/hora, assim vocês logo nos alcançam, determina o Lele.

Não demorou muito, e o Buatim avisa:

-        Já estamos aqui atrás novamente, nos juntando ao comboio.

Para nossa felicidade, foi apenas uma garoa rápida, mas a neblina continuou intensa por mais alguns quilômetros.

-        Que visão fantástica daqui da frente eu tenho, vendo os faróis de todos vocês pelo meu retrovisor, diz o  RC Lelê lá na frente.
-        Pessoal, eu vou passar por vocês pela esquerda, e vou fazer algumas fotos de vocês nesta névoa.
-        Vão ficar sensacionais estas fotos, diz o Chico.

Mais alguns km e a neblina se foi completamente, assim como a garoa.
O sol já aparecia e a perspectiva era de um dia limpo e de muito calor.

Rapidamente, chegamos a Santana do Livramento*, cidade que faz fronteira com Rivera*, no Uruguai.

* Compõe uma única malha com a uruguaia Rivera, onde há free shops de produtos importados. Para mudar de país, basta atravessar uma rua do Centro - não há burocracia.
Fonte: Guia Quatro Rodas.

Apenas uma rua divide os dois países, então, a atravessamos e já estávamos na Republica Oriental do Uruguai, onde rapidamente rumamos para a aduana uruguaia, para os tramites normais de carimbar o passaporte e registrar a entrada da moto.
Não queríamos perder tempo, pois tínhamos muitos km e ainda uma aduana pela frente, até Buenos Aires.

Observar os procedimentos aduaneiros corretos é imperativo em uma viagem, pois ao não fazê-lo, e chegando ao próximo passo fronteiriço, é certo de que os fiscais o obrigarão a retornar, quando não, poderão prender o veículo, causando grande dor de cabeça e atrasos ao grupo.
Então, toda documentação tem de estar rigorosamente em dia.
Recomenda-se uma revisão completa nos documentos antes de sair para que estes trâmites possam ser feitos de maneira correta e sem riscos.

O Lelê, ao apresentar o documento ao fiscal, foi informado que teria de pagar uma multa em dinheiro, por não ter dado baixa na sua saída, quando visitou o país na última vez.
Isto comprova a importância dos procedimentos serem feitos sempre de maneira mais correta possível.

A aduana em Rivera é muito simples e está instalada em pequeno prédio.
Como era manhã de domingo e chegamos havia recém aberto, não havia ninguém além das 8 motos estacionadas em frente e uns poucos cambistas á espera de algum turista disposto a trocar algum dinheiro.

O meu procedimento foi rápido, carimbo no passaporte e registro de entrada da moto no país.
Ao sair, me deparo com o Toninho e Joaquim, ambos sentados numa mureta, já fora da aduana, e o Toninho muito, mas muito contrariado e com um olhar extremamente triste.

-        O que aconteceu Toninho?
-        Pires, você não vai acreditar, o meu passaporte está vencido.
-        Como assim vencido?
-        Pires, peguei o documento mas não percebi que ele estava vencido.
-        Sem problemas Toninho, pois em todo Mercosul, eles aceitam a nossa carteira de identidade.
-        Pois é... eu não trouxe a minha identidade... estou “sem lenço e sem documentos”.

Uma atmosfera terrível tomou conta do grupo todo, pois nem havíamos saído do Brasil, e já teríamos uma baixa?
E o Toninho era um dos mais animados com a viagem, e não poderia ficar de fora.
O que fazer?

Uma das alternativas seria o grupo seguir em frente, Toninho e mais dois do grupo ficariam em Santana do Livramento, enquanto o documento seria enviado de Campo Grande, via aérea.
Em um ou dois dias estariam na estrada, correndo atrás do grupo principal.
Mas jamais nos alcançariam, mesmo que rodando muito mais do que o grupo da frente, viajaríamos todo o percurso como gato e rato.
Abandonamos esta alternativa, quando um dos nossos, disse o seguinte:

-        Ou vamos todos juntos, ou todos ficamos aqui.
-        Não vamos abandonar o Toninho e vamos conseguir uma alternativa.
-        Só sairemos daqui com o Toninho e o documento junto com ele.

PHD é assim, acredita que nada é impossível, principalmente quando se tem amigos conosco que não te abandonam jamais.

Pontualmente as 13:00 horas estávamos todos estacionados novamente na frente da aduana uruguaia, e com todas as motos juntas, e o Toninho de passaporte novo.

- Nunca vimos isto acontecer antes, comenta o atendente do outro lado do balcão, enquanto carimbava o documento do Toninho, que a esta altura, voltava a ser feliz.

Contamos aqui só o milagre, mas não podemos contar o Santo.

O atraso de 4 horas entendemos como providencial pelo nosso Guia Maior lá de cima, nosso Senhor dos Tempos, que resolveu atrasar nossa saída, pois entendemos o Seu recado de que era para sairmos um pouco mais tarde do que o previsto.
Era um sinal claríssimo de que Ele nos havia livrado de algum problema maior lá na frente.
Se ia ou não acontecer algo, nunca saberemos.

Este acontecimento, no início da viagem serviu para unir o grupo ainda mais e comprovar que um PHD vai até o fim, e nunca desiste e que aquele ditado que diz que a união faz a força, foi por nós comprovado que funciona de fato.

-        Ô Toninho, tá na escuta?
-        Sim, pode falar Joaquim.
-        Mas você estava com uma cara de “vaca laçada” naquela aduana heim?
-        Heim?
-        Como?
-        Não ouvi direito Joaquim, o rádio esta com interferência... tchau...
-        Ô Joaquim, explica este negócio de vaca laçada?
-        É que quando você laça uma vaca ou boi, ele fica com a mesma cara que o Toninho estava na aduana.
-        Fica triste, olhar perdido.

E rimos bastante por um bom trecho, embora achamos que o Toninho estava com o rádio desligado, pois não houve reação por parte dele.
Acho, inclusive, que só agora que ele ler este capítulo, vai saber o quanto nos divertimos com o ocorrido.

Toninho, saiba que o grupo não seguiria viagem sem você, e não te abandonaríamos jamais naquele lugar.



Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho Cap 18 - Deixando o Brasil


Ushuaia – 2 Rodas e um Sonho
Cap 18 - Deixando o Brasil

Dia 26 de Dezembro de 2009. Finalmente o dia da partida.
O primeiro do grupo a ligar a moto e tomar o rumo do sul foi o Beber de Blumenau, que viajou no dia 23 até Torres-RS, para passar o Natal com seus familiares e nos aguardaria na estrada no dia 26.

Os próximos a se despedirem de seus familiares foram o Joaquim e Toninho que saíram de Campo Grande ao meio dia do dia 25 de Dezembro.
Suas motos estavam guardadas em minha casa em Blumenau.

Eu saí da casa de meus parentes em Itu-SP também ao meio dia do dia 25, e me encontrei com o Toninho e Joaquim no aeroporto de Viracopos em Campinas-SP, onde pegamos o mesmo vôo com destino a Navegantes e depois Blumenau.

Na chegada ao aeroporto em Navegantes, a primeira demonstração de companheirismo, com os amigos Chico, mais o Bogo e Hilário e suas respectivas queridas, que nos aguardavam com cartazes de boas vindas, e com isso, já preparando o clima festivo que deverá nortear o nosso grupo ao longo desta nossa viagem.

Os últimos preparativos e checagens de alguns itens ainda foram feitos em minha casa na noite do dia 25, quando finalmente as motos estavam prontas estacionadas na garagem.
Três motos carregadas, abastecidas, aguardando seus pilotos darem a arrancada no motor no dia seguinte, bem cedo.

Um jantar leve, preparado por mim e servido aos meus convidados Toninho e Joaquim, um bom vinho e conversamos um pouco.
Estávamos cansados pela correria do dia.
Já próximo da meia noite, nos despedimos e fomos dormir.

Como já anunciado, o sono demorou a chegar em um misto de alegria, tensão
e ansiedade.
A noite passou rápida como nunca e logo, estávamos todos de pé, vestidos e prontos para a partida.
Café rápido e fomos ao encontro de nossos cavalos mecânicos, que pareciam nos dizer:

-        Até que enfim vamos sair, pois já não agüentávamos mais tanta espera !
-        Afinal, estamos de sapatos novos, abastecidas, revisadas.
-        Estamos prontas, vamos partir?

Como sempre faço antes de qualquer saída, fiz minha primeira oração ao lado da minha moto. Pedi proteção e que Deus olhasse por mim e pelos meus amigos em toda a viagem.
Que voltássemos todos inteiros, alegres e cheios de histórias para contar.
Que cada quilômetro tivesse a Sua proteção e que em cada curva, Ele estivesse ao nosso lado.

Pontualmente as 06:00 horas do dia 26 de Dezembro de 2009, enquanto tirávamos as nossas motos da garagem, ouvimos o ronco da moto do MacGyver se aproximando de casa.
Havíamos combinado o ponto de encontro dos que saíram de Blumenau em frente de casa.
Dei a partida no motor da minha moto, uma ultima olhada para o meu cachorro Zeus, que nos olhava através do portão, levantei o descanso da moto, e acelerei firme.
Era o início da nossa jornada ao fim do mundo.
Pela frente, muitos quilômetros nos aguardavam.

Os quatro motores roncando juntos quebravam o silêncio daquela manhã, que pela chuva da noite anterior, permanecia ainda com uma neblina leve e fresca.
O “trem”, finalmente, começava a ser formado.

Em Itajaí,  nosso RC (Road Captain) Chico nos aguardava ás margens da BR 101.
Mais alguns km à frente, em Balneário Camboriú, Buatim e Ivan juntavam-se ao comboio.

O primeiro abastecimento fizemos em Laguna, já no sul do estado e próximo da fronteira com o Rio Grande do Sul.
A tensão inicial depois de 252 km percorridos, ainda não havia passado, e isto demora mesmo um pouco a passar.
È como um sonho, demora um pouco para que se aperceba da realidade.

No segundo abastecimento, já em Torres-RS e com um calor muito forte, o Beber nos aguardava para seguirmos até São Gabriel*, o nosso primeiro pernoite e onde o  Lelê iria nos esperar, visto que rumou direto de Chapecó para lá.

* São Gabriel é um município brasileiro do estado do Rio Grande do Sul. Sua população estimada em 2009 era de 62.596 habitantes. É uma cidade histórica do interior do Rio Grande do Sul e está localizada no pampa gaúcho, junto à BR-290 a 320 km de distância da capital Porto Alegre, na região da Campanha, próximo da fronteira com o Uruguai.
Fonte: Wikipédia

Viagem tranqüila até próximo a São Gabriel, onde tivemos nosso primeiro encontro com a natureza e também o primeiro teste do grupo, como que programado.
Uma forte tormenta nos pegou na estrada, uma verdadeira bomba d’ água, anunciando que aquilo era apenas o começo.

E a chuva veio forte, muito forte, talvez para lavar nossas almas e nossos problemas do cotidiano que ainda insistiam em nos acompanhar.

O primeiro teste para o grupo, parar as motos no acostamento e, rapidamente, colocar as roupas de chuva.
Não é fácil colocar roupas de chuva por cima de roupas pesadas como cordura ou couro.

Parecia evidente a cooperação do grupo, seja no momento em que nos ajudamos uns aos outros ao colocar rapidamente as roupas de chuva á tempo de nos proteger, seja pela troca de informações ao longo deste primeiro percurso, pelos avisos dados uns aos outros pelos nossos rádios PX, onde procuramos orientar uns aos outros sobre a melhor forma de condução, ou alertando sobre um buraco ou acúmulo de água na pista.

Na chegada a São Gabriel, uma cena espetacular traçou o céu a nossa frente.

A tormenta havia passado e o céu voltava a ficar azul.
Ao fundo, no horizonte, o anúncio de um por do sol espetacular, em tons avermelhados e brilhantes.
Diante deste cenário, um bando de pássaros voando de oeste a leste, cortou o céu a nossa frente.
À frente, um líder mostrando o rumo a seguir e lá atrás, o ultimo deles, como que cuidando de todo o bando.

Era exatamente a mesma formação da cena do nosso grupo aqui embaixo.
Os mais experientes liderando os menos experientes.
Na retaguarda, como que cuidando do bando todo, o Joaquim garantia que ninguém ficaria para traz.

Sinal de que em toda viagem, seja ela de um bando de pássaros a voar para o ninho e passar a noite em segurança ou em um bando de amigos motociclistas rumando ao fim do mundo, o mais importante é a formação e o respeito ao grupo.
Os que mais sabem, orientam os outros de qual o melhor caminho a seguir, para que possamos, também nós, chegar em segurança de volta para casa.
Aquela cena me marcou muito, e ficará para sempre como um sinal de que, a natureza é sábia e dela podemos tirar muitas lições e aprendizados.
Basta que tenhamos olhos para ver e ouvidos para ouvir.
E saber interpretar os sinais que ela emite.
Sábio, é aquele que consegue ver e aprender com a mãe natureza.
Todo motociclista de verdade, é antes de tudo, um sábio.





Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho Cap 17 - É noite de Natal



Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 17 - É noite de Natal


Noite de Natal!
Noite linda, maravilhosa.
Noite de estar com a família, com os amigos, agradecer e celebrar mais um ano que chega ao fim, trocas de presentes, orações, abraços.
Cada família celebrando a seu modo, no mundo todo.
Estaremos com os nossos familiares, os abraçaremos forte, e um aperto no coração virá dentro de cada um de nós.

Depois de amanhã será a nossa partida rumo ao Fim do Mundo.
Bem cedo, estaremos acordando com certeza, de uma noite mal dormida.
Afinal, até os mais experientes do grupo, contam que na noite que antecede a viagem, não há como dormir direito, o sono vai e volta, pensamentos sobre o trajeto, sobre os amigos, sobre os preparativos e sobre as pessoas que deixaremos para trás por alguns dias, desfilam por nossas mentes.

Para os que estiveram mais envolvidos com a organização, o trajeto todo deve passar pela cabeça, como que tentando adivinhar cada trecho, cada parada, e com isto, vai viajando na frente, como que preparando o caminho, em uma viagem virtual antecipada.

É natural que isto aconteça, afinal de contas, esta palavra mágica que nos sufoca quando estamos longe, e nos alegra quando estamos perto de voltar, nos dá uma cutucada no nosso peito, dizendo: hei, estou aqui e vou te acompanhar por todo o trecho.
Esta palavra mágica se chama Saudade.

Palavra que não se consegue traduzir para língua alguma, mas que nos acompanhará por todo o tempo, e vai aumentando um pouco a cada dia, e ao final, torna-se enfim, razão maior de estarmos cercado por pessoas que nos amam e que estarão todos, junto com cada um de nós, nesta noite de Natal, do ano de 2009.
O mundo pode até fazer você sofrer, mas Deus quer ter ver sorrindo.
Sorrindo para a vida!, sorrindo para os amigos, sorrindo para a família.

Hoje, recebemos a seguinte mensagem, enviada pelo Alexandre:

De: Alexandre
Date: Thu, 24 Dec 2009
Subject: Leiam... do coração.

Queridíssimos Amigos.

Um bom marco que firmei na minha vida foi olhar ao derredor ou para traz e sentir orgulho de cada coisinha vista ou lembrada, mesmo que errada.

Procuro hoje, viver cada minuto ou momento com a maior intensidade, procurando construir à minha volta, uma base forte e firme numa redoma de alegrias e felicidades.

Agora, neste momento, penso na nossa viagem ao USHUAIA e me regojizo, sorrindo abertamente para mim mesmo, pois ser aceito pelo Grupo já organizado e preparado para esta aventura, me forja em metal mais forte, pois me sinto compreendido e abraçado.

A viagem em si, pouco me preocupa, embora peças podem quebrar, um pneu furar, uma ou outra coisinha estragar, a intempérie do tempo com chuva, vento ou frio muito fortes...
Somos precavidos e estamos bem preparados.

Me preocupa a possibilidade de não assimilarmos algumas coisinhas... de não darmos gargalhadas todo dia pelo menos um pouquinho, uma só vez... tem graça?

Existe, qualquer que seja ele, um final plausível se deixarmos estragar um belo momento por causa de um deslize ou discordância? Penso bem nisso.

Pretendo viver bem esta viagem em cada cantinho que passarmos ou onde estivermos, abraçado a vocês meus fiéis e incansáveis amigos TOBAS FAZEDORES DE CHUVA, recebendo e assimilando mais e novos ensinamentos.

Mesmo que uma rusga apareça, eis que o dinheiro é pouco, se o amigo boiolou ou deixou de boiolar, se a saudade da QUERIDA (hum... amorzinho...) estiver forte demais... sob todos os aspectos, pretendo curtir muitíssimo esta viagem.

Olha só... vamos comemorar a entrada de 2.010, novo decênio e podem ter certeza que as coisas ao nosso redor vão continuar no mesmo viéz, com ingratidões humanas, borrascas ou tornados, degelo e calor excessivo... quase nada do almejado por nós, mas e daí?

Vamos acatar e aplaudir, abraçando o Senhor dos Tempos, aos Amigos que estaremos visitando, aos que estiverem chegando, à natureza pródiga que nos propicia tanta beleza a ponto de nos fazer os olhos marejarem e aceitando e abraçando a possíveis novas pessoas que estejam passando por nós ou se acercando, chegando a nós.

Precisamos saber sorrir, afastar a solidão, assimilar diferenças ou indiferenças, confraternizar e acima de tudo, precisamos saber nos atendermos e nos entendermos, superando nossas fragilidades nos nossos braços e abraços entre amigos.
Finalmente quero dizer que eu gostaria mesmo era de dar um abraço em cada um nesta noite de Natal, desejando a cada um e a todos as maiores maravilhas e felicidades do mundo, mas, principalmente, desejar a cada um:

"FELIZ NATAL E BOA VIAGEM AO FIN DEL MUNDO".

Beijo no Coração.
PHD Evangelista

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho Cap 16 – Um último elemento


Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 16 – Um último elemento

A expedição toda foi montada de forma a poder ser acompanhada dia a dia, no site dos PHD’s (www.phd-br.com.br) e para isto, 10 dias antes da partida, o Chico resolve publicar no site, o nosso roteiro e o projeto completo, com as rotas GPS, pousos, postos de abastecimento, enfim, todos os detalhes possíveis e imagináveis.
Isto para que os visitantes do site, que são muitos, pudessem conhecer o projeto antecipadamente e acompanhar o desenrolar da viagem praticamente ao vivo.

Quando publicado no site, o Joaquim o alertou de que muitas pessoas viriam o projeto e poderiam solicitar a participação, e ficaria difícil dizer não, haja vista que o grupo de PHD´s ser uma comunidade com membros não só no Brasil, como em toda América do Sul, e todos se conhecem.

E não deu outra.
Dois dias depois de publicado no site do PHD o projeto e roteiro, do Chile chega um email ao Chico de um tal de PHD Pastor Solitário, dizendo:


De: Ricardo

Assunto: Fin do mundo


Salve, Chico!!!
Me aceitariam como parceiro para a viagem no Fin do mundo?
Aguardo resposta.
Aquele abraço.

PHD Pastor Solitário - Ricardo - Chile

E o Chico, que é muito educado e não sabe dizer não a algum pedido de um amigo, ao invés de cortar o assunto ali mesmo, e responder que o grupo estava fechado, que havíamos tido um período longo de preparação e tal, resolve não fazê-lo, e envia a seguinte resposta ao Ricardo:

De:  CHICO

Asunto: Re: Fin do mundo


Boa tarde meu querido amigo.
Qual a sua idéia?
Estaremos chegando ao Ushuaia no dia 02 de janeiro, a programação esta toda no site.
Mande a sua idéia e o seu roteiro.
Um grande abraço
PHD Chico



E, claro, era o sinal que o Ricardo aguardava para se juntar ao grupo,

De:Ricardo

Assunto: Fin do mundo


Olá Chico.
Minha idéia seria encontrar vocês em Bs As. ou Bahía Blanca e viajar junto todo o trajeto.
Daí seguir com o seu roteiro na volta até Bariloche, desde onde me separaria do seu grupo, para regressar a Chile por Osorno.
Aguardo resposta.
Aquele abrazo.
PHD Ricardo


O email do Ricardo datava de 17 de dezembro, ou seja, apenas 9 dias antes da partida do grupo aqui do Brasil.
O Chico então resolve compartilhar conosco o problema criado, para tentar buscar uma solução, do que denominou “O Conflito”:

De: CHICO

Assunto: Conflito


Bom dia meus amigos.
No Brasil resolvi todos os casos de amigos que gostariam de ir junto.
Porem aqui se tornaria um incidente internacional.
Gostaria da opinião de vocês.

PHD Chico tentando evitando uma guerra internacional com o Chile

Quando li o email do Chico, fiquei indignado, pois havíamos combinado certinho o grupo e via que de nada tinha adiantado, pois a publicação do projeto no site havia aberto a possibilidade de se formar um trem enorme na viagem e por tudo a perder.
E o pior é que estávamos ás vésperas da partida, então, qualquer membro novo a esta altura do campeonato, poderia significar o fim do nosso projeto.

Começou tudo de novo!, pensei.
Se este chileno se juntar a nós, fico imaginando quantos argentinos, uruguaios, bolivianos se juntarão?
O projeto vai literalmente imergir.
O grupo, assim como eu, também reagiu fortemente à entrada de um novo membro a aquela altura, e também disparou emails ao Chico.

A primeira manifestação foi a minha, e não foi nada cordial, pelo contrário, foi cheia de veneno.



De:  Pires

Assunto:Re: Conflito


Caro Chico
Vou dar minha opinião sincera.
Muitos amigos nossos daqui, inclusive de Blumenau, Florianópolis e de Campo Grande gostariam muito de estarem indo junto conosco, e de uma forma simpática e elegante, dissemos que “não daria”, pois havíamos definido o tamanho do grupo.

Portanto, não muda nada o seu amigo ser daqui, do Chile ou da China.
Minha posição continua a mesma.
8 motos, 9 amigos que se conhecem, viajando juntos ao Ushuaia.
Como ele é teu amigo, sugiro vc resolver a questão e não nos envolver.
Claro, esta é minha opinião, e vou acatar o que a maioria decidir.
 Abraço

PHD Pires

Logo depois do envio do meu email, praticamente todos os participantes se pronunciaram

De: Buatim

Assunto: Re: Conflito


Concordo com o Sergio

PHD Buatim


De: MacGyver

Assunto: Re: Conflito


Bom dia Chico e aos demais queridos, também!
A esta altura das comunicações entre você e o Ricardo me parece inevitável a adesão!
E com certeza outras ocorrerão, tipo dos 14 do Paraná que cruzarão com a gente em Comodoro Rivadávia.
Eu não vejo maiores problemas DESDE QUE o nosso grupo original, ou seja, os 9 "moicanos", permaneçam coesos e ajam como uma "massa única".

Um forte abraço a todos.
PHD Vanderson Contornando o Impasse Vendrame









De:Toninho
Assunto: Re: Conflito

Bom dia amigos
Sou obrigado a concordar com o Pires, pois se começarmos a deixar crescer o "trem”, começaremos a ter problemas, tais como, atraso nos abastecimentos, lotação nos hotéis, etc...
Como o Chico é conhecido, e tem algumas satisfações a dar por causa do PHD, sugiro que nós, os outros, arquemos com o ônus de disser NÃO a quem queira entrar no comboio.
Sugiro ainda, que o Chico faça um tipo de comunicado para todos que queiram se juntar a nós, informando da decisão do grupo, e também colocando abertamente esses problemas.
Acredito que um comunicado sincero fará com que todos entendam esses problemas, e que não entender...
PHD Toninho


De: Beber
Assunto: Re: Conflito

Amigos.
Permito-me fazer um comparativo que talvez não devesse ser realizado, pois envolve nosso amor pelas motos com a atividade profissional
Explico: na minha vida, como magistrado, tive que decidir inúmeras vezes contra os interesses de pessoas conhecidas.
E assim o fiz por obediência às leis, às normas, aos contratos, aos estatutos, aos acordos, etc...
Pois bem, nosso grupo, após a adesão do Joaquim, do Toninho e do Lelê, "FECHOU" questão quanto à inviabilidade de qualquer outro integrante no trem.
Com ou sem conflito internacional, quero deixar minha posição CONTRÁRIA a essa nova adesão. E o faço com absoluta tranqüilidade.
Sei que não estou magoando o Chico ou qualquer outra pessoa. Temos um grupo, assumimos compromissos entre nós, e qualquer forma de burlar o que ficou convencionado abrirá sério precedente para uma dissidência futura.
O chileno até pode ser um grande cara, um sujeito prestativo e muito bacana. Sucede que nós temos por aqui grandes personagens que também gostariam de ir e não tiveram acesso ao grupo. Nem por isso ficaram aborrecidos.
Estou dando por encerrado esse assunto.
Abraço a todos.
Jorge Sempre Coerente com as Regras Beber.


De:Joaquim
Assunto: Re: Conflito


Senhores,

A questão é complicada. Exatamente prevendo isso sugeri ao Chico que não publicasse o roteiro no site. Agora fica o impasse: Negar a qualquer cidadão livre o direito legítimo de circular pelas estradas argentinas e chilenas nas mesmas datas e horários nossas que estão detalhadas no site e assumir o ônus da antipatia do ato e até da ineficiência da negativa (alguns poderão teimar e fazer a viagem já que está toda mastigadinha no site) ou liberar geral e ver o que acontece?

Mas há uma terceira via que aprendi no exercício preparativo desta viagem com os irmãos do sul: Quando não se está de acordo com alguma coisa faz-se um silêncio sepulcral (lembram-se do meu festivo convite ao Lelê?).
Quem sabe não seja a hora de se aplicar um silencio sepulcral no hermano chileno (embora não tenha funcionado com o Lelê...)?

Grande abraço a todos,
PHD Joaquim assistindo de camarote Barbosa

Pelas manifestações de todos os integrantes do grupo, uns mais radicais e outros em tom mais conciliador, mas o importante era que a opinião unânime do grupo era contrária a entrada de mais um membro, e que ninguém estava disposto a aceitar mais gente as vésperas da partida e com risco de por o projeto a perder.

Mesmo que isto viesse contra os interesses do grupo PHD, visto que de fato, o Toninho ao se manifestar disse que o Chico, por ter muitos amigos e responder pelo PHD, certamente teria mais dificuldades em dizer não, e este ônus nós poderíamos assumir, e estávamos dispostos a assumir.

O fato é que isto gerou um mal estar muito grande no Chico, que nos confessou mais tarde que por pouco não desistiu da viagem, as vésperas da partida.
Se isto tivesse acontecido, seria a prova de que mesmo após meses de preparação e reuniões, um projeto pode deixar de existir, caso o interesse do grupo não seja preservada.

Muitas vezes, mais vale a opinião sincera do que um falso elogio.
Concordar por concordar e deixar para reclamar depois, não me parece a melhor receita para a formação de uma equipe ou grupo.
Os problemas têm de ser tratados quando eles aparecem, de forma a não deixar que um mal estar ou uma coisa mal resolvida seja o teu garupa de viagem.

Viajamos sem saber ao certo se o Ricardo iria ou não se juntar ao grupo, e isto só saberíamos mais a frente, onde contaremos o resto da história e o desfecho final do caso.
Posso lhe adiantar que o final é surpreendente.