domingo, 27 de novembro de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 12 - Terminando a Preparação


Pontualidade Britânica, 9:00 horas e o chamado para o jantar que já estava servido na casa do Chico, patrocinador neste nosso 5o. Encontro.
Impossível não recordar do sabor e do aroma daquela deliciosa paella preparada com muito carinho e servida a todos os presentes.
De quebra, um vinho argentino para acompanhar, aliás, tomamos muitos vinhos argentinos nestas nossas reuniões preparatórias, meio que já nos preparando e afinando os gostos, para os tintos argentinos e chilenos que, esperemos, virmos a degustar em nosso trajeto.

Após o delicioso jantar preparado com muito carinho, nos restava dar os últimos palpites na camiseta, apresentada ainda em meio eletrônico pelo Chico, assim como, dar os palpites em qual o melhor tipo de tecido e modelo de bolso ficaria melhor para a camisa, e trocar idéias sobre o patch e do pin.
O grupo ali reunido versava sobre todas as idéias apresentadas, e ouvia de cada um seus palpites:

-      Qual melhor local para afixar este bordado?
-      O que você acha de ser na frente da camisa?
-      Melhor na manga, de um lado o patch com o símbolo da viagem, do outro lado, o símbolo da Ruta 3, vai ficar lindíssima esta camisa!
-      E nas costas da camisa, bordado ou estampado?
-      O patch ficou perfeito, mas não fui eu que fiz não... apenas pedi para ser desenvolvido pela equipe do bordado.
-      Acho que cor dos olhos do “husky” não ficou boa. ...
-      Sensacional este pin, vamos fixá-lo na lateral da camisa...
-      Prefiro a cor preta para a camiseta, a cor preta com os desenhos claros ficará excepcional.
-      A camisa tem de ter manga longa, e 2 bolsos na frente.
-      Devemos bordar as bandeiras dos 4 países que vamos passar...

E até o pessoal de Campo Grande e Florianópolis, mesmo á distancia, pode opinar e votar nos diversos modelos apresentados, tudo via email.
Foi uma pena eles terem perdido esta fase, mas não havia como conciliar tudo.
Ambas, camiseta & camisa, foram então “construídas” com os palpites e opiniões que iam sendo colocadas na mesa.
Ao final, sobrou a satisfação do grupo ao ver os motivos, os desenhos e as cores apresentadas ganhando forma.
Fica evidente que em um grupo, personalidades e habilidades completamente diferentes quando juntas em um mesmo propósito, o resultado só pode ser bom.
Pessoas que nunca tiveram um contato direto com processo de produção e criação e design se viram obrigadas a irem atrás, conhecer e discutir lay-outs e amostras.
Negociar preço, prazo de entrega e cuidar para que tudo fique pronto a tempo e agrade a todos.
Por isso, todo este projeto foi para todos nós um grande aprendizado.
A soma de talentos vence o preconceito, o objetivo comum, passa a ser a coisa mais importante.

O que temos percebido até aqui é que este projeto de viagem tem nos ensinado muitas coisas que achávamos que já sabíamos, mas que na prática, não é tão simples assim.
Desde o planejamento, aos poucos, vimos como é difícil um planejamento de um grupo, e quanto mais avançamos nesta fase, mais sonhamos com o dia da partida.

Por isso tudo, já valeu a pena até aqui, por tudo o que fizemos e ficamos só imaginando o que está por vir e o quanto mais experientes vamos voltar desta nossa viagem.
Esta fase está chegando ao fim, pois não resta muito mais o que planejar ou fazer.
Foi uma fase fantástica, de muito aprendizado, amizade e companheirismo.
Os próximos meses serão dedicados a preparação da moto, das roupas e dos detalhes discutidos nesta fase inicial.
Agora não nos resta outra coisa a fazer, senão esperar e contar os dias para a partida.
A fase de preparação está enfim, encerrada.

O email abaixo, enviado pelo Chico bem depois, que ao ler este capítulo, relatou:

De: Chico
Assunto: Parabéns!

Lendo estas linhas lembro-me das idéias, das discussões calorosas, e agora aqui fico imaginando como a cada dia aprendemos não só de impormos as nossas idéias, mais sim procurar dividi-las, ajustá-las, e mesmo modificá-las em prol do grupo, em prol da amizade, em prol da segurança, enfim aprendemos a convivermos em grupo, respeitando as opiniões de todos.
Obrigado a todos

PHD Chico



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 11 - Pedaços ao longo do caminho

A 4a. reunião realizou-se na casa do Beber, novamente em clima descontraído onde enquanto tomávamos algumas garrafas de vinho, analisávamos os mapas e lugares onde vamos passar.
 As ausências dos amigos de Campo Grande e Florianópolis novamente foram sentidas, mas nada que a criatividade e o bom humor não resolvessem a questão.
O roteiro completo elaborado pelo Chico foi então apresentado nesta reunião, detalhando os postos de gasolina, os hotéis, os locais onde vamos fazer as paradas, enfim, víamos a nossa frente a materialização do projeto e a divisão da viagem, as pernas que teríamos de vencer a cada dia e os dias de folga, onde dormiríamos e iríamos poder conferir as atrações de cada local.
Claro, todos cientes de que em uma viagem longa, haverão imprevistos e que ao longo do caminho tem de ser ajustados.
Mas vale a recomendação dos mais experientes, viagem longa, deve sim ter uma preparação bem feita e creio que estamos seguindo bem esta fase da viagem.

Vencida esta etapa, era hora de pensarmos em como deixar marcada esta viagem para nós e para os amigos que vamos fazer e que vem ao nosso encontro ao longo da jornada.

De fato, hoje em dia quando se fala em viajar de moto pela América do Sul, já há uma “rede de amigos” por todo canto.
Isto tudo, fruto dos encontros internacionais em que alguns do grupo participam, e acabaram criando não só um laço de amizade, mas uma rede de apoio importante.
Por isso, em várias cidades que vamos passar neste nosso projeto, haverá um ou outro amigo que já estiveram em encontros no Brasil ou então, alguém do grupo já os encontrou em reuniões no Paraguai, Argentina, Chile, Peru e Uruguai.

Esta “rede de amigos” ao saber de sua viagem se prontificam a receber o comboio em suas cidades de origem, programarem passeios, um jantar com o grupo, ou então, um simples encontro em um posto de gasolina, nem que seja apenas para um aperto de mão e dizer “buena suerte”

Não é incomum muitas vezes, protagonizarem histórias fantásticas, como viajarem kms e kms de distancia de suas casas, apenas para prestar socorro a alguém em pane ou quebra, assim como, desmontarem suas próprias motos para retirar determinada peça e emprestar aos que ali passam e com o imprevisto, ficariam na estrada sem o pronto socorro.
Quem já recebeu este tipo de ajuda, sabe do que estamos falando.

Esta é a grande diferença quando se viaja de moto ao invés do carro ou avião.
A moto é uma verdadeira “fazedora de amigos”, pois quem viaja, sabe o que estamos dizendo: é só parar em um posto de gasolina ou hotel, que as pessoas chegam quase que naturalmente a lhe perguntar de onde veio, para onde vai, e se pode tirar uma foto em cima da sua moto.

Se você tem a sorte de encontrar um outro motociclista então, o amigo está feito antes mesmo de retirar o capacete, pois motociclista de verdade, não cria barreiras ou tem algum tipo de preconceito, sabe e é conhecedor do espírito que rege esta doutrina.
Uma vez conhecido, depois de alguns minutos de conversa, parecem que são amigos de longa data.
Muitas novas amizades surgem deste modo, ou então, quando existem os encontros onde a reunião de velhos e novos amigos termina sempre com você acrescentando um novo em sua lista.
E é assim que funciona no mundo todo, uns mais abertos outros mais tímidos, e é por isso, que somos especiais.

Mas voltando a nossa reunião na casa do Beber depois do delicioso jantar, o grupo decidiu que teríamos uma camiseta exclusiva, assim como camisas, patchs e pins.
Da escolha do tecido, até a confecção das camisetas e das camisas, seriam ainda alguns encontros e pesquisas.
Alguém pode estar pensando neste momento: mas para que isto tudo?
E a resposta é simples: É isso que diferencia um projeto do outro.
Muitos viajam, muitos vão e voltam e fica o vazio.
São ajudados pelo caminho, e em troca, um obrigado ou nem isso.
Poucos deixam suas marcas e nosso grupo decidiu que deixaria sua marca por onde passasse.
A camiseta, que iríamos conhecer o modelo em nossa próxima reunião, depois de usada na viagem, seria dada de presente a atendentes de hotéis, nos postos de gasolina, ou ás pessoas que cruzassem nossos caminhos, além dos amigos que iriam nos receber em algumas das paradas definidas.

Seria uma forma carinhosa de deixar “pedaços de nosso projeto ao longo do caminho” e uma forma de agradecimento e reconhecimento aos amigos que se dispõem em nos receber e nos proporcionar momentos de alegria e companheirismo.

Estas pessoas que ganharão estas recordações serão aqueles que ao olharem para a camisa ou camiseta, se lembrarão de um grupo de motos, vindas de longe, que por ali passaram e deixaram aquela recordação e, para eles, aquilo terá uma história e que terão de contar e recontar de como conseguiram ganhar aquela camiseta, aquela camisa ou aquele pin, que ninguém mais tem por ali.
Parece nada, mas quem já presenteou uma pessoa humilde, ou alguém que o ajudou em momento difícil e viu o sorriso no rosto desta pessoa ao receber o presente, jamais esquece.
Não há melhor forma de dizer obrigado do que dar a pessoa, sua própria roupa.
E queremos ter e guardar estas boas recordações em nossa viagem.
Por isso, a camiseta teria de ser linda, especialmente elaborada e única.

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 10- Os fazedores de Chuva


Conhecemos um grupo de motociclistas que, recentemente, se reuniu em Itajaí-SC, todos viajantes e que se auto-intitulam “Os Fazedores de Chuva”.

O título peculiar nos chamou a atenção, e por ocasião desta nossa viagem ao Fim do Mundo, iniciamos uma pesquisa para entender um pouco mais do significado deste título, até então desconhecido por nós.
O grupo, formado por diversos motociclistas das mais variadas partes do mundo, tem em comum o amor pelas viagens em duas rodas, mas não viagens comuns e, sim, por longas e duradouras viagens de aventura.

Será que nós, que vamos iniciar uma viagem longa e a um lugar tão especial como o Ushuaia, teríamos direito a algum título especial?

Antes de responder a esta pergunta, procurei saber um pouco mais sobre os “Fazedores de Chuva”.
Soube que faziam parte dos povos antepassados, que viveram na América ainda não descoberta.
Os Fazedores de Chuva eram sacerdotes Mayas. Os Tz’utujiles os chamavam Nabe’ysiles.
Acreditavam que tinham poderes de fazer chover ou fazer parar de chover.
Em Atitlán, eram os intermediários entre suas comunidades e os deuses da chuva. Os Nabe’ysiles se encarregavam de pedir a chuva para que o povo tivesse boas colheitas.
Uma estória contada de geração em geração, narra uma das passagens destes mitos que viveram entre nós por gerações, e eram venerados e adorados por seus povos.

O titulo da estória é: “O Fazedor de Chuva” - autor – desconhecido.

“Certo povo, sofria durante muitos anos consecutivos uma terrível seca. Apesar de que a comunidade solicitou em várias ocasiões os serviços de famosos fazedores de chuva, nenhum conseguiu solucionar o problema. Em uma última e desesperada tentativa os cidadãos do povoado decidiram pedir ajuda a um famoso fazedor de chuva de um país distante.
Quanto este chegou ao povoado, armou sua tenda de campanha, entrou nela e desapareceu durante quatro dias.
No quinto dia, a tão esperada chuva começou a cair com abundância, molhando toda a terra ressequida pela seca.
Aos olhares incrédulos dos olhos de todos, os habitantes do povoado perguntaram ao fazedor de chuva como havia conseguido fazer aquele milagre.
 - O mérito não é meu, respondeu o fazedor modestamente. Eu não fiz nada.
Diante daquela resposta, os habitantes do povoado exclamaram:
 - Não é possível! Quatro dias depois de você chegar começou a chover?
 - A primeira coisa que eu falei ao chegar, explicou o fazedor, foi que vosso povo não vivia em harmonia com o céu.
 - Eu somente harmonizei meu ser com o poder de Deus durante quatro dias e o céu nos presenteou com sua água de chuva”.

Texto retirado e copiado da internet – autor desconhecido.

Entendi então que, além de terem poderes especiais, os fazedores de chuva faziam algo que os diferenciava dos demais de seus povos.
Por vezes, viajavam em terras estranhas e desconhecidas, á busca da chuva tão necessária para seus povos.
A analogia com os Fazedores de Chuva viajantes da atualidade me fez agora sentido.
São pessoas especiais, que buscam terras distantes e desconhecidas e pela grandeza de suas viagens, se tornam homens especiais.
Não precisam de reconhecimento ou exposição pública, simplesmente tem em comum o espírito da aventura e a busca, não da chuva em si, mas do auto conhecimento e da harmonia do poder do grupo para com Deus.
Então, seremos nós um grupo em harmonia com o céu?
Se assim o formos, seremos merecedores do primeiro degrau da graduação.

Voltando a reunião dos motociclistas de Itajaí, fiquei sabendo que o primeiro degrau é ser um “Fazedor de Garoa”.
Faz jus a este título, todo motociclista que chegar ao... Ushuaia!

Opa!!, então, ganharemos todos um título muito especial se realizarmos esta viagem ao Ushuaia.

Seremos todos, “Fazedores de Garoa”.

Do nosso grupo de viagem, o Chico e o Lelê já tem o título de Fazedor de Garoa por já terem ido e voltado de moto ao Ushuaia.
O MacGyver quase, pois foi de moto e retornou de carro.

 No ano que vem o Chico e o Lelê planejam partir ao Alaska, e serão então do grupo, os dois primeiros e legítimos detentores do título de “Fazedores de Chuva”.

Então, nos resta torcer para que nossa viagem seja coroada de êxito, e que voltemos de lá, todos legítimos “Fazedores de Garoa”.
O que não imaginávamos a esta altura, seria a ligação desta estória com a surpresa a nós reservada no retorno para casa, mas que será contada lá na frente,  no momento oportuno.



domingo, 31 de julho de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho



Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 9 - O dia que viramos TOBAS


O grupo PHD (Proprietários de Harley Davidson) nasceu em 2002 em um encontro realizado em Gramado-RS, tendo como objetivo, aglutinar motociclistas simpatizantes da lendária marca americana, com legiões de fãs, principalmente nos Estados Unidos da América (seu berço de nascimento), mas também aqui na América do Sul, conta com expressivo numero de motociclistas.
Em comum, além de proprietários da lendária marca americana, cultivam a amizade e as viagens, e mais recentemente, incorporaram também em sua filosofia, a bandeira da solidariedade, cujas obras, começam a produzir efeitos positivos em alguns pontos do Brasil.
Não tem presidente, nem sede, nem estatuto.
Basta ser proprietário de moto da marca, se cadastrar no site (www.phd-br.com.br), e vir a fazer parte da grande família PHD.
São vários encontros em diferentes localidades dentro do Brasil, e também na América do Sul e o PHD Chico, é o grande idealizador e líder do grupo.
Como em toda agremiação, vão nascendo diversos sub-grupos em todo o Brasil e América do Sul, e um destes sub grupos é da cidade de Campo Grande.
Este grupo se chama “Crazy Dog Toba Red”, incrível nome que nem os fundadores do grupo sabem ao certo o que significa, mas que para eles, tem um significado muito especial. Do seu site (http://crazydogtobared.blogspot.com/), retiramos sua filosofia:

“Somos um grupo de animados motociclistas que curtimos a vida de uma maneira alegre, buscando manter um bom relacionamento, e amizade entre todos. O Grupo surgiu em 2000. O nome, "bastante criativo" foi dado pelo nosso saudoso colega Zé Barbosa. Hoje somos uma turma bem grande que cresce a cada ano, com excelentes companheiros. Nosso ponto de encontro é a Padaria das Garças, onde todo dia tem alguém por lá para bater um papo.”

Os que fazem parte deste grupo são chamados de TOBAS e entre os amigos que estarão no grupo rumo ao Ushuaia, o Joaquim e o Toninho, vem deste grupo de Campo Grande.
Em recente retorno de viagem de Araçatuba a Campo Grande, o relato abaixo demonstra toda espontaneidade e irreverência dos Tobas:

“Onze motos, Toba-Móvel de apoio. Céu azul, protótipo da viagem perfeita. Quinze quilômetros de estrada e muda tudo. Joaquim com o pneu traseiro de sua HD, furado. Embarcados, ele e suas queridas... sua Xanxan e sua HD. Ninguém merece... Muito bem, sem maiores percalços, continuamos tranqüilos, com mudança de Road Captain. O escolhido então foi o Benoni, que de tão preocupado e cuidadoso, com seus companheiros, acabou esquecendo sua querida, num posto de abastecimento. Foi destituído do cargo.
Ainda bem que Já estávamos voltando para Campo Grande após o maravilhoso encontro II GO WEST em Araçatuba, SP. O dia estava infernalmente quente, e nós paramentados com aquelas roupas pretas, pesadas e impermeáveis. As queridas passaram todas (éramos oito) para o Tobamóvel devido ao calor terrível, e os maridos não viam a hora de chegar em casa. Combinamos então que nos veríamos em Campo Grande para que eles pudessem andar mais rápido. Muito bem, nem bem andamos uns 15 quilômetros e então é a vez do Tobamóvel não agüentar o calor. O pobre começou a cortar o motor como que anunciando estar nos estertores da morte, sacolejando e soqueando até parar de vez. Socorro!! Estamos S.O.S. naquela estrada escaldante às 14:00 horas, longe de qualquer sombra!!! Mais que depressa a Regininha chamou pelos velozes esposos ao rádio... que nada, tão velozes que o rádio já não alcançava mais. Ficamos lá atônitas por uns trintas segundos até pintar a primeira reação. Resolvi ir para a estrada pedir carona, e fui muito disposta mesmo, abanei com a mão e só vi um caminhão desviando. Deixa estar, pensei, já sei como fazê-los parar. Chamei a Adelina que veio de pronto. (Ela é magrinha, loira e de cabelos compridos) Foi uma abanada e pimba!!!!  Parou uma enorme carreta. Um simpático senhor Mário prontamente nos socorreu. E lá fomos nós, Adelina, Regininha e Cristina, uma trinca de distintas senhoras de carona numa carreta por uns 5 quilômetros até o próximo posto. Aí nos desdobramos, Regina foi arrumar um carro para buscar as queridas que ficaram no sol. Adelina foi arrumar um carro para rebocar o Tobamóvel até o posto e eu fui arrumar o telefone de um guincho na cidade mais próxima. Qual não foi nossa surpresa (agradável) ao vê-las chegando. Resumindo, filtro limpo, água fresca no radiador e muito ânimo, retomamos nossa viagem confiantes na breve chegada ao nosso destino. Mais uns seis quilômetros e... adivinhem? Cof, cof, cof... engasgos, sacolejos, tudo de novo até apagar completamente. Ai Deus, que desatino. Viajamos por tantos desertos, Atacama, Mojave, e vamos passar por isto aqui no nosso quintal???? E um pesar sombrio ameaçou cair sobre nós... (dá pra ouvir um fundo de música funesta?). De repente começamos a rir como adolescentes do ridículo daquela situação, e todo temor se desvanece. No fim acabamos nos dividindo em três carros e o Tobamóvel chegou rodando. Acho que ele estava mesmo era com muito calor e talvez, e apenas talvez, estivesse com um pouquinho de excesso de peso”.
Escrito por Cristina, de C.Grande.

Mas voltemos ao título deste capítulo.

Do relato acima, um email foi enviado ao Joaquim e ao Toninho, parabenizando-os pela viagem e pelo relato do ocorrido:









De: Pires
Assunto: Crazy Dog Toba Red - Pifou o Toba Movel

Pessoal
Sensacional o relato da viagem dos Tobas a Araçatuba.
Tem um trecho do relato que substituíram o Joaca por outro Road Captain, e ele ESQUECEU A ESPOSA NUM POSTO DE GASOLINA!!!!!!!

Leia o relato da volta, você morre de rir... muito legal.
Olha, estas queridas de CG são muito legais.

PHD Pires


E o Joaquim, ao responder a mensagem, se lembrou do Zé Barbosa, um dos fundadores do grupo dos Tobas, irmão de todos e fraternal motociclista, que hoje, nos abençoa lá de cima:

De: Joaquim
Assunto:RE: Crazy Dog Toba Red - Pifou o Toba Movel

Pois é pessoal,

Esses são "Os Tobas"... Não temos a disciplina e a perfeição das viagens programadas por estas bandas do Rio Itajaí. Mas seguimos felizes em nossa evolução anárquica acompanhados de nossas heróicas queridas! Entre mandos e desmandos, entre brigas e declarações de amores, seja lutando com um pneu que sempre teima em furar ou andando no "Tobamóvel" que velhinho como é dá conta do recado e mostra prá todo mundo o nome curioso do nosso grupo, que foi batizado por um louco querido, nosso santo, nosso guru, que hoje nos cuida lá de cima. Essa é nossa sina, nossa religião, e até que voltemos a encontrá-lo, enquanto tivermos forças, vamos continuar por aqui seguindo seus ensinamentos. São justamente as imperfeições que fazem deste grupo que ninguém sabe nem quantos são, a beleza que é.
Eu tenho certeza que este grupo de amigos aí do Sul e que vamos viajar juntos ao Ushuaia tem pelos Tobas somente carinho e amizade.
Quando o Pires levantou a bola, eu não resisti a dar uma filosofada.
E de vez em quando me lembro emocionado... do Zé Barbosa.
Na verdade considero meus sete companheiros que estão indo daí, verdadeiros Tobas.

Grande abraço a todos,
PHD Joaquim Toba

Sem querer, neste dia, todos nós nos tornamos TOBAS, batizados que fomos, pelo Joaquim.
Isto foi uma honra a todos nós, pois quem conhece os Tobas de C. Grande sabe que é um grupo especial e que tinha entre seus fundadores, o Zé Barbosa, que ainda hoje é reverenciado como um grande motociclista e figura humana.
Foi um grande inspirador, uma pessoa especial, e hoje, todos o chamam de Anjo. Um Anjão que nos olha lá de cima, lá do céu.

Que o Zé Barbosa esteja conosco rumo ao Ushuaia, olhe pelo grupo durante toda a viagem, e nos ajude a todos a seguirmos sua filosofia de vida: Simplicidade e Fraternidade.
Afinal de contas, Zé Barbosa, a partir de hoje, graças ao Joaquim, todos somos também, TOBAS.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 8 – O Alicerce do Projeto


A 3a. reunião foi na minha casa novamente, e o Macgyver ficou encarregado do jantar.
Esta foi, sem dúvida, uma reunião das mais importantes até aqui, pois de fato, ao final dela, tínhamos um “projeto de viagem”, finalmente no papel e também porque, muitas decisões importantes foram tomadas nesta ocasião.
É como a construção de uma casa, você tem idéia dos quartos, da sala, da cozinha, mas não sabe ao certo, onde e nem como começar.
Mas quando as paredes começam a subir, você já começa a sonhar com os quadros e a cor das paredes.
Assim é um projeto de viagem, algo para ser curtido, é muito prazerosa esta fase.
Então, vou chamar esta reunião de “alicerce do projeto”, pois depois deste encontro, o projeto ganhou vida pelas decisões tomadas em conjunto.

 O sabor de cada assunto sendo tratado se confundia com o sabor dos vinhos e da excelente pizza que comemos enquanto ouvíamos conselhos e observações de todos, dúvidas, medos, enfim, tudo o que cerca uma viagem longa como a que pretendemos fazer daqui a três meses e meio.
O cuidado extremo na escolha dos participantes sempre norteou o grupo, e uma frase dita pelo Joaquim , sintetiza todo este sentimento.

“Temos de sair como irmãos, e cuidar, para não voltar como primos”.

Não precisa dizer mais nada, muita gente quer ir, mas temos de cuidar para que o grupo seja coeso e muito mais do que coeso, seja fraternal.
Sem dúvida alguma, realizaremos uma viagem com pessoas especiais, amigos de fato.
Mas a frase do Joaquim deve estar sempre em nossas mentes a cada stress que com certeza, vão surgir lá na frente.
Deste encontro, várias foram as decisões e recomendações tomadas em consenso:

-      A data da partida será – 26/12/2009, de Blumenau, as 06:00 h.
-      Todas as decisões e recomendações que envolvam Segurança e Manutenção, todos vão seguir o mesmo procedimento padrão, sem exceção.

A decisão relativa a itens de segurança e manutenção tem por objetivo garantir que caso ocorra uma quebra ou um problema relativo na viagem, será por conta do acaso e não do descaso.

Esta recomendação acima, embora pareça meio que imposição, e foi imposição mesmo, pois afinal, cada um viaja da forma que achar que deve, mas poderá fazer enorme diferença caso um problema apareça e o membro não tenha seguido a recomendação do grupo.
Com certeza, o que menos queremos nesta viagem, é ficarmos estressados um com outro por motivo pequeno.
Então, nada melhor do que estabelecer algumas regras já olhando para frente, e sabedores que somos que, nem tudo é festa em uma viagem longa e em grupo, então, tudo o que puder ser feito antes visando minimizar atritos, melhor.
E foram muitas e importante as decisões tomadas neste sentido, desde pneus zerados e sem câmaras, até o tipo de roupa mais adequado para a viagem, passando por vacinas, documentação da moto e seguro.

Estes momentos que antecedem uma viagem devem ser curtidos por todos os que pretendem realizar um sonho ou um desafio.
Se aprende muito nesta fase, principalmente com os mais experientes.
Esta de pegar a moto e sair sem destino, você pode chegar a lugar nenhum, ou sua viagem terminar em um ponto indesejável.
Deixe isso para as estórias de cinema.
Então, a discussão do grupo, a participação e o ajustamento de pontos de vista e idéias, é o primeiro passo, para uma boa viagem.
Se isto fez ou não alguma diferença, só vamos saber lá na frente, quando estivermos de volta.
Vamos conferir.
De toda forma, como é bom estar junto de pessoas por quem temos amizade, são momentos alegres e de descontração, que todos nós precisamos praticar cada vez mais.
A próxima reunião será na casa do Beber, onde já devemos ter o roteiro mais definido e também, outras decisões mais avançadas.





















Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 7 – Afiando os nossos machados


O fato de ainda estarmos em Agosto e programando a possível viagem para final de Dezembro, tem um efeito duplo.
Por um lado, chegaremos à formatação final da viagem com tempo suficiente para preparar a moto e a nós mesmos sem atropelos.
Por outro lado, cria um misto de ansiedade e incerteza, se de fato, o projeto vai ou não ganhar vôo.
É incrível como um objetivo faz bem as pessoas e talvez por isso, o homem é movido a sonhos.
O sonhar, mais do que traçar metas no horizonte futuro, transforma as pessoas e dá a elas o motivo que faltava para iniciar certas atividades visando preparar-se para aquilo que se avizinha.
É como um comandante às vésperas de uma batalha, em que conhece a força do inimigo e as limitações da sua tropa.
Neste instante, ele incondicionalmente, direciona esforços para o fortalecimento dos pontos fracos, do treinamento e aprimoramento da sua tropa, pois em caso contrário, perderá a batalha.
Nós somos assim, somos movidos pela necessidade e todos sabemos onde estamos bem, e onde precisamos reforçar nossas fraquezas.

Alguns dos membros do grupo, incluindo este que escreve, iniciaram um processo de condicionamento físico e fortalecimento de suas deficiências, a fim de suportar melhor o tempo e a fadiga que se vislumbravam e isto tudo, antes mesmo do projeto ter tomado forma.
É incrível que por vezes, ficamos ensaiando iniciar um tratamento ou o condicionamento físico, mas sempre arrumamos uma desculpa para não fazer naquele momento.

O Ushuaia é isso, desafia as pessoas a buscar o seu melhor, a se preparar bem para não fazer feio e ver seu sonho transformar-se em decepção.
Isto me fez lembrar de uma estória que já citei em algumas de minhas palestras, cujo título era:


O Velho Lenhador


“Em uma antiga vila de lenhadores, conta a estória que ocorria uma vez ao ano, uma competição, em que o vencedor seria sempre o lenhador que mais troncos cortasse ao final do dia.
Naquele ano, logo após dado o sinal da partida, os mais jovens correram á frente, e freneticamente, começaram a derrubar os troncos em grande velocidade, e avançavam rapidamente.

Lá atrás, um velho lenhador, de tempos em tempos, interrompia o trabalho e sentado, observava a correria e a velocidade com que os competidores mais jovens avançavam.
Um deles se aproximou dele e o interpelando, disse:

-        Todos já avançamos e cortamos muitas árvores. Noto que o senhor interrompe sempre seu trabalho. Eu entendo que pela sua idade, o senhor deve se cansar mais rapidamente do que nós.
-        Porque não desiste, salvando assim o pouco de saúde que lhe resta?
-        Meu jovem, respondeu o velho lenhador, ocorre que eu estudei por semanas todas estas espécies de árvores desta floresta que ora estamos cortando, e eu sei que todos são troncos robustos e de madeira dura.
-        Sem dúvida que recuperar o fôlego é importante, mas não o mais importante.
-        Durante minhas paradas, eu não apenas recupero o meu fôlego, mas principalmente  aproveito o tempo,  para afiar o meu machado.
-        Ter a ferramenta adequada e afiada é fundamental para gastar menos energia e poder chegar ao final do dia menos cansado e vencer a competição.
-        E é exatamente  isso que pretendo fazer hoje, vencer esta competição.
-        Da forma como vocês fazem, não conseguirão sequer chegar ao meio dia, pois estarão exaustos pelo enorme esforço que fizeram por terem trabalhado o tempo todo, com a ferramenta despreparada.”

Relacionei a estória com o que estamos fazendo agora, nos preparando, e creio que neste momento, estamos apenas “afiando nossos machados”, á espera do momento da partida, para chegarmos ao fim da viagem inteiros.

O que importará menos para nós será quantos km agüentaremos pilotar a cada dia, ao contrário, priorizaremos o prazer do convívio e o sabor da vitória, quanto todos nós estivermos de volta em nossas casas.

Por isso, ao planejar uma viagem longa e a um destino como o Ushuaia ou um outro distante, deveremos saber exatamente o que vamos enfrentar pela frente.
Deveremos conhecer cada um os seus pontos fracos, e preparar da melhor maneira, a nós e a nossas maquinas.

E nada melhor do que contar com velhos viajantes, que acumularam experiências de viagens anteriores, que neste momento, usam sua sabedoria para agregar conhecimento ao grupo, buscando com isso, o melhor preparo.
Em toda grande viagem de moto, experiência e planejamento nunca devem dar lugar a pressa.
Ter membros experientes no grupo traz a todos nós um inexplicável conforto tendo a certeza de que, temos muito mais a aprender do que a ensinar.
Humildade, antes de tudo, pois aos mais experientes, obediência e respeito devemos ter.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 6 - O pacto de silêncio que não funcionou


Na organização de um projeto como este, bem como o dia a dia na estrada, nem tudo o que acontece são flores e os conflitos de interesse, não poderiam deixar de existir.
Viajar em grupo é um enorme exercício de paciência e de resignação.
Quanto me propus a escrever este livro, com a ajuda de todos os meus amigos que viajaram, firmamos entre nós um compromisso de contar toda a verdade com todos os detalhes, fossem boas ou ruins, e de não esconder nada do leitor.

Isto para que todos os que se dispuserem a ler o nosso livro, pudessem conhecer de fato, a realidade dos bastidores que cercaram organização e formatação da viagem.
Os conflitos, os interesses particulares de cada um, a forma como agimos, e também como conseguimos driblar tudo isto, e realizar o nosso sonho com sucesso.
A narrativa deste capítulo procurou trazer a luz todos os fatos, no maior desafio nosso antes da partida que foi a montagem do grupo que iria viajar.

Eis os acontecimentos, tal e qual aconteceram:

Quando do nascimento do projeto e definição do grupo de viagem, uma das primeiras preocupações do “núcleo duro de Blumenau”*,  foi quanto ao numero de participantes.

* Núcleo duro de Blumenau: Foi uma forma carinhosa que o companheiro Joaquim Barbosa achou para denominar os 5 membros de Blumenau (Chico, Sergio, Beber, Buatim e MacGyver), idealizadores da expedição, pois na sua visão, éramos nós os “ditadores das regras do projeto”. Nota do autor.

Sabíamos que, á medida em que mais amigos tomassem conhecimento do projeto da viagem, teríamos um enorme problema nas mãos que seria dizer “não” àqueles que se candidatariam a irem juntos, haja vista que um numero grande de viajantes em um projeto longo como este, não é recomendado por ninguém que já o realizou.
Seria um erro, e o “núcleo duro” não estava disposto a cometê-lo.

Por outro lado, teríamos que nos segurar para não convidar o “nosso próprio melhor amigo” para ir junto, o que seria perfeitamente natural e compreensível que cada um quisesse levar junto o “seu parceiro” de viagem, pois todo mundo tem alguém em especial e que gosta de sempre viajar junto.

Estas e outras preocupações se davam porque em uma viagem longa, o tipo de moto usada pelo grupo deve ser, preferencialmente, igual, ou então próximas uma das outras, pois não há como realizar uma viagem em que algumas motos, por exemplo, tenham autonomia para 350 km e outras 150 km ?
Umas viajam a 120 km/hora e uma outra que não passe de 90 km/hora.

Lendo relatos de outros projetos, pude comprovar que um grupo com muitas diferenças, o risco de o mesmo se desfazer na estrada é alto, e como diz nosso amigo e companheiro Joaquim:

  - Todos saem como irmãos e acabam virando primos no caminho, ou sequer isto.

Cientes deste risco, o “núcleo duro” celebrou um pacto, para tentar minimizar ou evitar este risco.
O pacto celebrado era:

 “Ninguém convida ninguém para a viagem, sem antes consultar a todos do grupo e a aprovação deve ser unânime”.

Pacto feito, pacto aceito pelos 5 do “núcleo duro”
Mas houve um “acidente de percurso”

Era agosto, e realizava-se o 6o. Encontro de Harleyros em Blumenau, evento a nível internacional, realizado anualmente no mês de Agosto, em que o Chico é o idealizador e anfitrião.
Exclusivo motos Harleys, evento de enorme prestigio, e muito concorrido, considerado um dos melhores encontros do país.

No sábado de manhã, como de praxe, há um desfile de motos pelas ruas centrais de Blumenau e neste ano, contava com mais de 450 participantes.

Eu participava do desfile, com a moto emprestada do amigo Bogo, juntamente com o Chico, MacGyver, Buatim e Beber.

Em determinado momento, ouvi através do canal de rádio PX, a seguinte conversa:

 - Ô Buatim, nós temos de ver os equipamentos, pneus e revisão de motos para a nossa viagem ao Ushuaia.
 -Claro, temos ainda muito tempo para isso, mas temos de nos preparar.
 -O que você me diz?... copiou?

Eu pensei:
Quem teria sido o “esquecido do núcleo duro” que, sem querer, havia anunciado o nosso projeto secreto e naquele momento, dava “a noticia ao vivo e a cores?

Sem querer, o Beber havia “soltado no ar” a notícia de nossa viagem ao Ushuaia.

Debaixo do meu capacete, ao ouvir a mensagem do Beber, pensei:

-      Temos nesta parada, no mínimo umas 300 motos, destas pelo menos umas 250 são modelo Electra que vem equipadas com rádio PX e muito provavelmente, sintonizadas no canal 11, que é o canal usado pelo grupo PHD.
-      10 entre 10 motociclistas desejam um dia viajar ao Ushuaia.
-      Vamos ter muitos amigos querendo se juntar ao nosso grupo e vai ser difícil contornar a situação.

Seria quase impossível que ninguém estivesse com o rádio PX ligado e é claro, ouvindo a mensagem e o nosso “projeto secreto” de viajar ao Ushuaia em poucas motos, acabara de ir para o espaço!

Silencio total... ninguém respondeu nada à pergunta do Beber.

Pensei:

- Acho que ninguém ouviu e acaba de acontecer um “milagre” neste desfile.

Porém, milagre demais o Santo desconfia...

O Joaquim ouviu, ficou em silencio durante a parada toda (ainda bem), e o assunto voltaria novamente à tona, somente à noite, no jantar de encerramento, onde o Beber e Joaquim sentaram-se na mesma mesa
Sobre o convite, o Joaquim assim narra a sua estratégia para fazer parte do grupo nesta expedição:

 -Gostaria de afirmar que ouvi sim o papo do rádio, mas confesso que minha ficha não caiu naquele momento.
-      E justiça seja feita, o Beber NÃO me convidou na noite de encerramento.
-      Na verdade ele num surto de "Gaúcho Papudo" virou para mim do nada, no maior convencimento e como se estivesse indo na esquina, declarou em tom solene: Estamos indo ao Ushuaia.
-      Eu respondi: Ah é! Que legal. E quem vai?
-      Ele desfilou a turma do “núcleo duro” que coincidentemente eu conhecia egostava de todos e aí sim minha ficha caiu.
-      Então eu disse a ele: Gostaria muito de ir com vocês mas se não for possível pego minha turma, colo em vocês e faço o mesmo programa!
-      Neste momento o gaúcho metido amarelou, ficou pálido e aí a ficha que caiu foi a dele.
-      Se levantou sem dizer uma palavra, encontrou o Chico atrás de uma coluna e disparou: Chico, fiz merda...
-      Foi um soco no fígado do pobre Chico, um filme passou na cabeça dele: Como vou brigar com a turma de Campo Grande?
-      Eles enchem o meu evento de gente! E eu fico na maior mordomia quando vou a Campo Grande!
-      Ai meu Deus minha vida vai ser um inferno!
-      E o pior é que é capaz deles virem atrás mesmo.
-      Beber seu jaguarão, confirma o gordo e pede pra ele não comentar com ninguém.
-      O Beber que voltou detrás da coluna era outro: Perfeitamente meu querido! Você era tudo que precisávamos no nosso grupo!
-      Seja bem vindo!
-      Eu pensei com meus botões: É, a chantagem funcionou.
-      O Pajé piscou..."

O Beber e o Chico então se viram em maus lençóis, pois tínhamos um pacto de silencio entre nós do “núcleo duro”, de não convidar ninguém sem falar antes com o grupo, e o Joaquim foi convidado por eles á revelia de todos.

Nós, já nos sentindo meio “excluídos” do “núcleo duro”, logo percebemos que foi um convite feito “sem querer – querendo”, entendem?

-      Haviam convidado mais alguém?
-      Quantos mais vocês convidaram, Beber e Chico?
-      Não, mais ninguém só o Joaquim.
-      Ufa, ainda bem

O “núcleo duro” recebeu naturalmente a notícia e ninguém se opôs ao Joaquim ir junto, pois éramos ainda só 5 motos, uma a mais, não faria diferença e o Joaquim era amigo de todos nós, um excelente companheiro de viagem e, sua moto, igual à de todos.
O fato de já ter viajado ao exterior com praticamente todos do grupo completavam o perfil.

Mas não podíamos deixar o Joaquim saber que ele foi “aprovado pelo núcleo duro”, pois ele sequer desconfiava do tal do “pacto de silencio” fechado entre nós.

Então foi meio que:

-      Seja Bem vindo Joaquim!!
-      Que legal que você vai junto conosco!!!

E fim de papo.

Agimos naturalmente, como se nada tivesse acontecido, e sem dar muitas explicações, pois a esta altura do campeonato, seria tentar explicar o inexplicável e a emenda poderia sair pior do que o soneto.

Como o Joaquim viria de C.Grande, por motivos de segurança na ida e na volta, o agora “núcleo duro, mais duro ainda”, decidiu sugerir ao Joaquim que convidasse um companheiro dele de Campo Grande, para lhe fazer companhia.
Coube ao Chico comunicar a ele a decisão do grupo:

-      Joaquim, convida um amigo seu para lhe fazer companhia até Blumenau e o acompanhar na volta. Estamos preocupados com o Gordo.
-      Mas Joaquim, é um só, entendeu?

O problema é que o Joaquim faz parte de um grupo grande de Campo Grande, chamado de “Crasy Dog Toba Red”, formado por pelo menos 40 Harleyros e todos amicíssimos dele e quando viajam, na maioria das vezes, viajam juntos.

Como o Joaquim iria chegar em Campo Grande, escolher um parceiro de viagem em meio aos seus 40 amigos?

-      Problema dele, falamos.

E deixamos isto a cargo do companheiro Joaquim, afinal, não iríamos nos meter em terra alheia.

O Joaquim convidou o Toninho Morais, e nos avisou por email.
Agora o grupo contava com 7 motos.

Do Toninho Morais, recebemos o seguinte email onde expressa a sua alegria e emoção ao ser convidado para a viagem:

De: Toninho
Assunto: Re: Mais um meio macho...

Prezados senhores aspirantes ao título de "fazedor de tormenta".
É com a alma lavada, o coração encharcado e a voz embargada de emoção e agradecimento que me dirijo aos prezados, amados e queridos companheiros.
Uma pessoa como eu, calmo, ponderado e outras virtudes mais, como bem descreveu JB, após ter dobrado o Cabo da Boa esperança, começa a querer enfrentar e vencer novos desafios, talvez para mostrar para si e para os outros que é MACHO. Um desses desafios é sem duvida ir para Ushuaia e, nada melhor do que ir para lá com um grupo tão seleto como esse.
Me despeço, após estas poucas e sinceras palavras, desejando a todos um excelente final de semana e feriado
Abraço
PHD Toninho

Pronto!
Finalmente o grupo estava fechado, pactuado no silencio, e éramos 7 motos.
Mas será que estava fechado mesmo?

O Chico, conhecendo o Joaquim de longa data, e sabendo que o Joaquim era muito amigo do Alexandre Evangelista que mora em Florianópolis, “sugeriu” que o Joaquim “consultasse” o Lelê, se este estaria disposto a viajar junto no grupo na expedição.

Ou seja, o Chico, no fundo, queria o Lelê no grupo, mas como ele era do “núcleo duro” e um dos signatários do Pacto do Silencio, não poderia convidá-lo diretamente.

Induziu então o Joaquim, que ao invés de efetuar o convite diretamente ao Lelê, resolve consultar primeiro a querida do Alexandre, para sentir a reação dela.
Ela não só deu o alvará, como também incentivou o Alexandre a efetuar a viagem, sacramentando então o convite a ele.

O Lelê acabou sendo convidado indiretamente e veio a fazer parte do grupo, meio “sem que sem querer querendo também”, e não sabia de nada sob pacto do silêncio.

E isto tudo acontecendo nos bastidores, sem que o “núcleo duro” agora quase extinto, soubesse de nada.

A notícia da inclusão do Lelê foi dada pelo Chico, mas também indiretamente, dizendo que foi Joaquim quem o havia convidado e que ele não sabia de nada, numa confusão danada.

-      Mas como o Joaquim convidou mais gente sem nos comunicar antes?
-      Beber, você avisou o Joaquim do nosso pacto do silêncio?
-      Eu não, alguém ai avisou ele
-      Chico, o que houve?
-      Não sei de nada...
-      Isto vai virar um “trem da alegria”, e nossa viagem vai pro brejo!

Para o “núcleo duro quase extinto”, o Joaquim havia convidado o Alexandre Evangelista sem consultar o grupo.

Pronto!
De novo, um stress danado tomou conta do “núcleo duro”
Emails apavorados circularam de um lado para o outro.
Mensagens em celulares davam conta da temperatura alta e questionamentos se não havia mais gente sendo convidada “aos montes e sem controle”.

-      Agora o Alexandre vai convidar um amigo dele também??!!
-      Daqui a pouco seremos 20 motos em um projeto que éramos 5!
-      E como fica o nosso projeto?!!!
-      Gente, será possível que ninguém entendeu ainda que o grupo não pode ser grande?

Eu era um dos mais apavorados, pois já havia viajado antes em um grupo grande e havia sido um stress danado.

O Lelê estava feliz da vida por poder retornar ao Ushuaia onde já havia estado de moto alguns anos atrás, e já ia contando nos dedos os dias que faltavam para a viagem.

Agora, era o Joaquim que se via em “saia justa” pois não sabendo do pacto, se deu conta que havia convidado o Lelê sem saber de pacto algum.

O Lelê, neste meio tempo, vendeu sua antiga moto, uma Honda Gold Wind e adquiriu uma Electra Ultra zero km, e já fazia planos de estréia da nova moto nesta viagem ao Ushuaia.

E pior, não poderíamos deixar saber do pacto, e de que foi convidado “sem querer”.

O “núcleo duro” não se opôs ao convite feito ao Alexandre, muito pelo contrário, ficamos todos felizes em tê-lo como participante.

Coube a mim oficializar o Lelê no grupo, enviando a ele todo o material e o que havia acontecido até aquela data, emails trocados e todas as decisões tomadas até ali e o roteiro fechado para a viagem.

Com a confirmação dele, completamos o numero de viajantes, que desde o início tínhamos estabelecido como máximo: 8 motos iguais.
Tínhamos ainda a possibilidade remota do Bogo ir junto, já que fez parte das primeiras reuniões, mas depois, por motivos particulares, deixou a decisão em stand by, mas toda semana, me perguntava como estava o projeto e que “estava louco de vontade de ir junto conosco”.

Portanto, caso o Bogo decidisse por ir junto, seríamos 9 motos.
Ainda assim, no limite máximo, mas um número considerado bom.

Depois do ocorrido, em uma “reunião extraordinária e deliberativa”, o “núcleo duro – agora duríssimo e muito atento a tudo”, resolveu baixar uma regra ainda mais dura:

“Se alguém convidar mais alguém, este alguém vai entrar no lugar de quem convidou. O convidado entra e quem convidou sai”.

Era uma forma descontraída de dizer que o grupo estava de bom tamanho, 8 motos iguais, 8 grandes amigos e 9 sonhadores em partir para o Ushuaia, visto que o Alfredo, desde o início, planejou levar o filho Ivan na garupa, um privilégio de poder dividir com ele, esta aventura em 2 rodas.

Por incrível que pareça, talvez não tivéssemos tido tamanho acerto na escolha dos participantes desta viagem se tivéssemos feito de forma diferente como foi.

Tínhamos entre nós muitas coisas em comum, e muitos amigos nossos, que estão lendo este livro agora, vão entender porque não os convidamos para nossa viagem e não o fizemos por absoluta necessidade de manter um grupo pequeno, para garantir o sucesso do projeto.
Mas viajamos com todos vocês em nossos corações.

Bem, me parecia perfeito, gente experiente, pessoas que comungam a alegria e o companheirismo e isto seria fundamental para a nossa viagem.

Eu não tinha então nenhuma experiência na formatação de um grupo de viagem de longa distancia, e muito menos a pretensão de delimitar o número de participantes.

Mas também, não deixava de me preocupar com a nossa viagem, e por que não dizer, com a minha viagem, já que era um dos integrantes mais ansiosos por realizá-la e porque não dizer, um incentivador desde o princípio junto ao grupo.

Lembro que o projeto original nem era para ser Ushuaia tendo em vista a janela de tempo, e eu fui um dos que bateu o pé para que projeto se desenvolvesse nesta direção.

Então me sentia na obrigação de não tornar um projeto maravilhoso, em um desastre no final.
Me sentia mesmo o “guardião do projeto”.

Os meses seguintes seriam gastos na preparação do projeto, pois queríamos garantir um bom planejamento da viagem e poder curtir cada momento nesta fase.