quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 7 – Afiando os nossos machados


O fato de ainda estarmos em Agosto e programando a possível viagem para final de Dezembro, tem um efeito duplo.
Por um lado, chegaremos à formatação final da viagem com tempo suficiente para preparar a moto e a nós mesmos sem atropelos.
Por outro lado, cria um misto de ansiedade e incerteza, se de fato, o projeto vai ou não ganhar vôo.
É incrível como um objetivo faz bem as pessoas e talvez por isso, o homem é movido a sonhos.
O sonhar, mais do que traçar metas no horizonte futuro, transforma as pessoas e dá a elas o motivo que faltava para iniciar certas atividades visando preparar-se para aquilo que se avizinha.
É como um comandante às vésperas de uma batalha, em que conhece a força do inimigo e as limitações da sua tropa.
Neste instante, ele incondicionalmente, direciona esforços para o fortalecimento dos pontos fracos, do treinamento e aprimoramento da sua tropa, pois em caso contrário, perderá a batalha.
Nós somos assim, somos movidos pela necessidade e todos sabemos onde estamos bem, e onde precisamos reforçar nossas fraquezas.

Alguns dos membros do grupo, incluindo este que escreve, iniciaram um processo de condicionamento físico e fortalecimento de suas deficiências, a fim de suportar melhor o tempo e a fadiga que se vislumbravam e isto tudo, antes mesmo do projeto ter tomado forma.
É incrível que por vezes, ficamos ensaiando iniciar um tratamento ou o condicionamento físico, mas sempre arrumamos uma desculpa para não fazer naquele momento.

O Ushuaia é isso, desafia as pessoas a buscar o seu melhor, a se preparar bem para não fazer feio e ver seu sonho transformar-se em decepção.
Isto me fez lembrar de uma estória que já citei em algumas de minhas palestras, cujo título era:


O Velho Lenhador


“Em uma antiga vila de lenhadores, conta a estória que ocorria uma vez ao ano, uma competição, em que o vencedor seria sempre o lenhador que mais troncos cortasse ao final do dia.
Naquele ano, logo após dado o sinal da partida, os mais jovens correram á frente, e freneticamente, começaram a derrubar os troncos em grande velocidade, e avançavam rapidamente.

Lá atrás, um velho lenhador, de tempos em tempos, interrompia o trabalho e sentado, observava a correria e a velocidade com que os competidores mais jovens avançavam.
Um deles se aproximou dele e o interpelando, disse:

-        Todos já avançamos e cortamos muitas árvores. Noto que o senhor interrompe sempre seu trabalho. Eu entendo que pela sua idade, o senhor deve se cansar mais rapidamente do que nós.
-        Porque não desiste, salvando assim o pouco de saúde que lhe resta?
-        Meu jovem, respondeu o velho lenhador, ocorre que eu estudei por semanas todas estas espécies de árvores desta floresta que ora estamos cortando, e eu sei que todos são troncos robustos e de madeira dura.
-        Sem dúvida que recuperar o fôlego é importante, mas não o mais importante.
-        Durante minhas paradas, eu não apenas recupero o meu fôlego, mas principalmente  aproveito o tempo,  para afiar o meu machado.
-        Ter a ferramenta adequada e afiada é fundamental para gastar menos energia e poder chegar ao final do dia menos cansado e vencer a competição.
-        E é exatamente  isso que pretendo fazer hoje, vencer esta competição.
-        Da forma como vocês fazem, não conseguirão sequer chegar ao meio dia, pois estarão exaustos pelo enorme esforço que fizeram por terem trabalhado o tempo todo, com a ferramenta despreparada.”

Relacionei a estória com o que estamos fazendo agora, nos preparando, e creio que neste momento, estamos apenas “afiando nossos machados”, á espera do momento da partida, para chegarmos ao fim da viagem inteiros.

O que importará menos para nós será quantos km agüentaremos pilotar a cada dia, ao contrário, priorizaremos o prazer do convívio e o sabor da vitória, quanto todos nós estivermos de volta em nossas casas.

Por isso, ao planejar uma viagem longa e a um destino como o Ushuaia ou um outro distante, deveremos saber exatamente o que vamos enfrentar pela frente.
Deveremos conhecer cada um os seus pontos fracos, e preparar da melhor maneira, a nós e a nossas maquinas.

E nada melhor do que contar com velhos viajantes, que acumularam experiências de viagens anteriores, que neste momento, usam sua sabedoria para agregar conhecimento ao grupo, buscando com isso, o melhor preparo.
Em toda grande viagem de moto, experiência e planejamento nunca devem dar lugar a pressa.
Ter membros experientes no grupo traz a todos nós um inexplicável conforto tendo a certeza de que, temos muito mais a aprender do que a ensinar.
Humildade, antes de tudo, pois aos mais experientes, obediência e respeito devemos ter.

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