sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Cap 2 - Nasce um Sonho

Ushuaia – Duas Rodas e um Sonho
Cap 2 - Nasce um Sonho
                                                                                      
Era para ser mais um jantar lá em minha casa, onde estaria tendo a oportunidade de receber meus amigos no “cantinho da nona”, como chamo carinhosamente minha área de festas, em homenagem à minha querida e eterna Nona.

Acima da churrasqueira, a frase que diz todo o sentimento que nossa família tem quando recebemos amigos em nossa casa, frase esta que copiamos de uma placa de uma estreita rua, na cidade do Porto, em Portugal:

“Bem vindo seja,
quem vier por bem”

E aqueles amigos que ali estavam, eram todos muito bem vindos.

Na ocasião, iríamos comer um “assado”, oferecido por mim e desfrutar de algumas horas de alegria e descontração na companhia de verdadeiros amigos, todos companheiros de moto, que juntos, comungamos da paixão pela amizade e pelas longas viagens em duas rodas.

Desde a convocação dos amigos para este jantar, parecia que havia algo no ar.
A começar porque a convocação tem uma história e pela primeira vez, o jantar tinha até um nome, bem sugestivo por sinal:
Seria o “1o. Encontro de Machos PHD’s de Blumenau”.
Mas porque este nome? Qual seu objetivo? E onde o jantar nos levou?
É o que começarei aqui a narrar, sem nada inventar.

Tudo começou, quando o Chico montou um projeto chamado "Rastro da Serpente", que vou explicar rapidamente do que se trata e o que isto tem a ver com a reunião no cantinho da nona, lá em casa.
Nos EUA, existe uma rodovia conhecida como One Destination of Bikers, que é o sonho de qualquer motociclista, pois num trecho de 11 milhas, existem 318 curvas, muitas delas bem fechadas.

Localizada no estado da Geórgia, se chama "Tail of the Dragon", ou O rabo do Dragão, rodovia muito famosa, e quem por lá já passou, sabe do que estamos falando.
Numa árvore á beira desta estrada, cujo nome é “Tree of Shame” ou Árvore da Vergonha, ficam penduradas as peças das motos que se perdem pelo caminho, fruto das inúmeras quedas que ocorrem por aqueles que não respeitam o mito e excedem na ousadia e velocidade, e o “dragão”, não perdoa, e morde.

O Chico, acabara de passar pelo Tail of the Dragon, em recente viagem de moto aos EUA, e não parava de tecer elogios a tortuosa rodovia.

Ficou sabendo que a BR 376, que liga o estado do Paraná ao estado de S. Paulo havia sido reformada recentemente, e que teria um trecho ainda pior do que a rodovia americana, repleto de curvas e com elevado grau de dificuldade para ser percorrido de moto.

Coincidentemente, o Chico, juntamente com os amigos PHD’s MacGyver, Rui e Beber, retornavam de uma viagem a Valentin Gentil, no interior de SP, e resolveram percorrer a BR 476, na volta a Santa Catarina e não só comprovaram o que haviam escutado, como o Chico resolveu “batizar” aquele trecho da BR 476 de “Rastro da Serpente Brasileira”, numa alusão ao Tail of the Dragon Americana.

Nesta primeira descida, a “serpente brasileira” fez a primeira vítima, pois o  Rui, num triz de distração, beijou o asfalto, sendo por isso, o primeiro motociclista brasileiro a ser “mordido pela serpente”, antes mesmo de inaugurado oficialmente o trecho.

Para divulgar o trecho e torná-lo passagem quase obrigatória dos amantes do motociclismo no Brasil, o Chico resolveu colocar um marco, no centro da cidade de Apiaí, no interior de SP onde a rota se inicia.
A idéia seria a seguinte:

Todo motociclista que passar pela “Serpente Brasileira”, poderá registrar o fato parando a sua moto em frente a esta placa e tirar uma foto.

No início do “Tail of the Dragon” existe uma escultura de um dragão enorme, onde os motociclistas tiram as fotos e comprovam que por lá estiveram, e foi de lá que ele tirou esta idéia e resolveu por em prática.

E assim, desenvolveu uma placa enorme e marcou uma data e convidou a nós, seus companheiros de moto aqui de Blumenau, para irmos juntos levar e fincar a placa na cidade de Apiaí.
Convidou também muitos outros motociclistas para a inauguração da placa, de várias cidades do interior de SP e também de Curitiba.

Nos dias que antecederam a viagem e no próprio dia da viagem, chovia em cântaros aqui pelas bandas de Blumenau, e a previsão era que a chuva iria subir rumo ao Paraná e São Paulo, e mantendo-se a mesma para todo o final de semana. Pelo telefone, argumentamos:

-        Chico, vamos esperar o tempo melhorar e vamos todos juntos.
-        Sair daqui com esta chuva não tem sentido.

Mas meus argumentos foram em vão, pois ele alegava que o pessoal de S. Paulo e Curitiba o esperava e que não poderia deixar de ir, o que entendemos, mas não concordamos, pois todos sabemos que o risco em pilotar com chuva é maior.
Mas o Chico é teimoso, e foi assim mesmo.

Dos que havia convidado daqui de Blumenau, só o MacGyver e o Stein foram com ele.
Enfrentaram uma chuvarada e tanto, mas graças a Deus, retornaram bem e a placa foi afixada conforme havia previsto.

A serpente não “mordeu’ nenhum daqueles que o acompanharam de Curitiba, embora alguns, lá chegando, resolveram por lá ficar e pernoitar, o que de certa forma, nos confortou, pois mostrava que de fato, a “serpente” é das mais venenosas.

No retorno da viagem, o MacGyver nos envia um email, dizendo ter sido ótima a viagem, que tudo havia saído conforme planejado, mas nos chamando a todos de: “cagões”.

Claro, a turma toda, em tom de brincadeira, passou a “azarar” a vida do MacGyver por ter enviado este email tão “desaforado” e mal criado daquele jeito.

O Beber quase emite um mandato de prisão contra ele, além do Buatim, que pensava em como devolver tamanha ofensa, e buscou na famosa frase do PHD Assis de Florianópolis, a vingança:

“Quer tomar banho toma, não quer, não toma”!

Não precisa dizer que o clima esquentou entre os amigos.
Outros emails contra atacando, com certeza viriam.

Foi aí que tive a idéia do jantar. Seria para “apaziguar” os ânimos e foi onde resolvi marcar em minha casa um assado e convocar a todos com o chamado para a “1a Reunião dos Machos PHD’s de Blumenau”, e o mote era:
Quem for Macho, que apareça!  Não faltou ninguém.
Lá estavam os amigos Buatim, Adilson, Beber, Bogo, Chico, MacGyver e eu.

A intenção era pôr fim ao suposto mal estar e por que não dizer, um ótimo motivo para conversarmos um pouco sobre viagens, motos, encontros, e outros assuntos relacionados à nossa paixão, que depois de nossas queridas, são nossos cavalos de 2 rodas.

Um assado de picanha, regado a molho shitake, acompanhado de um bom vinho tinto argentino, foi o cardápio.
A conversa era solta, com liberdade total para gozações, misturadas com relatos e sonhos de viagem.
E foi num destes momentos, que alguém falou sobre viajar ao “Ushuaia”.
Houve um silêncio...
Todos os amigos, ao mesmo tempo, pararam de falar, e parece que todos nós, viajamos naqueles instantes, para muito longe dali.

Do grupo ali reunido, o Chico já foi e voltou de moto ao Ushuaia, o  Bogo, de carro e o MacGyver, foi de carro, mas de moto não havia conseguido terminar o percurso.
Eu, Buatim e Beber, só em sonho.
A conversa fluiu sobre outros assuntos, mas algo me dizia que o assunto Ushuaia não tinha terminado e que voltaria brevemente, para ser melhor digerido.

Haveria de esperarmos um pouco mais, afinal, ir ao Ushuaia, assim como passar pelo “Rastro da Serpente” ou pelo “Tail of the Dragon”, são coisas que separam os homens dos meninos e, por isso mesmo, seria assunto para outra ocasião, pois a noite já avançava e era hora de retornar ao ninho.


































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