domingo, 2 de janeiro de 2011

Prefácio Por Arthur Albuquerque

        Além de navegar, viajar de motocicleta é preciso. Pois,
a par do prazer físico a viagem alimenta a alma com as  mui-
tas novidades e oportunidades de aprendizado,   que  surgem
pelo caminho.
       Parafraseando Albert Einstein,  nenhuma   alma  que   se
abra para novas experiências de uma grande viagem de moto
voltará a ter o tamanho original. Mas, para isso é necessário,
essencialmente, que  se tenha alguma   sensibilidade, pois de
pouco adianta contar as muitas cidades   conhecidas e os mi-
lhares de quilómetros percorridos, se não se sentir, aprender
ou descobrir algo   significativo; ao menos,  sobre si  mesmo.
É um grande  desperdício, quando  viajar  é  apenas   usufruir
prazer e incensar vaidades.
         Toda grande  viagem  começa  muito  antes  da partida,
principalmente, a   viagem de motocicleta.  Começamos a vi-
venciá-la  no   sonho,  que aos poucos vai  ganhando substân-
cia  com as  pesquisas  de mapas, sites, livros, clima, lugares
imperdíveis etc, além das conversas entre amigos. Verificada
a viabilidade,   logo é  confirmado o roteiro e pronto: define-
se a data da partida.
       Ao  se   ler   este    livro,    tem-se    a   oportunidade     de   acom-
panhar    o    processo   de  decisão   sobre   uma   grande     viagem  de
moto,    nos   mínimos    detalhes.      Durante    a    preparação,        nas
varias   mensagens   trocadas   entre os  futuros  viajantes é  perceptível
a   busca    do   equilíbrio entre a razão e a emoção; como   no  amoleci-
mento do   "núcleo duro"   para    admitir  novos   integrantes no trem.  E
também,   entre   o   romantismo e a realidade;   transparecendo, na  bela
prosa  poética,  a complexidade  da  natureza  humana  aos   surgir   uma
imagem,  aparentemente paradoxal,  de  alguém  "separando   uns  trapos
já surrados para jogar no lombo e apartando  um  bom escocês e alguns"
Cohibas", como um exemplo  de  simplicidade  e  despojamento  no pre-
paro da bagagem.
          Em  suas  páginas,  lições singelas de profunda   sabedoria  para a
boa  convivência  aparecem  aqui   e ali, como a contida na frase  "quem
anda  na  garupa  não  pega rédea",  atrelada a  essencial   recomendação
de  se  substituir,  no coração de cada um, os sentimentos de     egoísmo e
vaidade  por  atitudes  de  "humildade, tolerância e solidariedade". Lição
esta, muito bem aplicada na superação do episódio  "Barilochegate".
           Alem do discreto e construtivo  registro das  interações    humanas,
este livro sobre uma  viagem  de  moto  a  Ushuaia  propicia  recordações
deslumbrantes ou sugestões imperdíveis de lugares  mágicos, onde  se po-
dem  perceber  esplendores  da  natureza,   como  anoitecer  estrelado  nas
Pradarias  Patagônicas,  o  entardecer  seminublado  no Paso  Garibaldi, a
beleza da Lapataia, a imponência das magnificas Torres Del Paine e o inu-
sitado  em  conhecer  os rios de gelo, que são Los Glaciares. Além de tudo
isso, este livro nos sugere o aconchego de charmosas cidades e as delícias
gatronômicas acessíveis no caminho.
           Á  Confraria do Fim do Mundo ficara a gratidão de  todos  nós, lei-
tores,  que  muito  aprenderemos  ao  acompanhar  o desenrolar desta mag-
nífica  viagem.   E  com todos nós, a certeza de que o Grande Arquiteto do
Universo  atendeu  as  mais  intimas  aspirações  de  seus integrantes, pois
ao  encerrar  a  leitura  deste  excelente  livro escrito por um motociclista,
permanece a sensação gratificante de de que cada piloto,   em algum lugar
perdido na distancia - sob o ripio varrido pelo vento- "desapegou-se  dos
pequenos desassossegos, dos vícios e sentimentos mesquinhos"; e "voltou
mais confiante do que era,  mais humilde do que podia  ser e muito menos
orgulhoso do que parecia".
          Assim,   na volta para casa, a partir de Buenos Aires,  cada um dos
pilotos   carregava  uma  alma  mais  grandiosa,  um melhor  conhecimen-
to  de  si  mesmo  e no coração;  uma sede ainda  imperceptível, que será
insaciável,   de  percorrer  com  sua  moto  e  na   companhia dos irmãos,
outras belas  estradas do mundo.
                                                           Rio de janeiro, 19 de abril de 2010
                                                    PHD Road Captain Arthur Albuquerque


      
      

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