Além de navegar, viajar de motocicleta é preciso. Pois,
a par do prazer físico a viagem alimenta a alma com as mui-
tas novidades e oportunidades de aprendizado, que surgem
pelo caminho.
Parafraseando Albert Einstein, nenhuma alma que se
abra para novas experiências de uma grande viagem de moto
voltará a ter o tamanho original. Mas, para isso é necessário,
essencialmente, que se tenha alguma sensibilidade, pois de
pouco adianta contar as muitas cidades conhecidas e os mi-
lhares de quilómetros percorridos, se não se sentir, aprender
ou descobrir algo significativo; ao menos, sobre si mesmo.
É um grande desperdício, quando viajar é apenas usufruir
prazer e incensar vaidades.
Toda grande viagem começa muito antes da partida,
principalmente, a viagem de motocicleta. Começamos a vi-
venciá-la no sonho, que aos poucos vai ganhando substân-
cia com as pesquisas de mapas, sites, livros, clima, lugares
imperdíveis etc, além das conversas entre amigos. Verificada
a viabilidade, logo é confirmado o roteiro e pronto: define-
se a data da partida.
Ao se ler este livro, tem-se a oportunidade de acom-
panhar o processo de decisão sobre uma grande viagem de
moto, nos mínimos detalhes. Durante a preparação, nas
varias mensagens trocadas entre os futuros viajantes é perceptível
a busca do equilíbrio entre a razão e a emoção; como no amoleci-
mento do "núcleo duro" para admitir novos integrantes no trem. E
também, entre o romantismo e a realidade; transparecendo, na bela
prosa poética, a complexidade da natureza humana aos surgir uma
imagem, aparentemente paradoxal, de alguém "separando uns trapos
já surrados para jogar no lombo e apartando um bom escocês e alguns"
Cohibas", como um exemplo de simplicidade e despojamento no pre-
paro da bagagem.
Em suas páginas, lições singelas de profunda sabedoria para a
boa convivência aparecem aqui e ali, como a contida na frase "quem
anda na garupa não pega rédea", atrelada a essencial recomendação
de se substituir, no coração de cada um, os sentimentos de egoísmo e
vaidade por atitudes de "humildade, tolerância e solidariedade". Lição
esta, muito bem aplicada na superação do episódio "Barilochegate".
Alem do discreto e construtivo registro das interações humanas,
este livro sobre uma viagem de moto a Ushuaia propicia recordações
deslumbrantes ou sugestões imperdíveis de lugares mágicos, onde se po-
dem perceber esplendores da natureza, como anoitecer estrelado nas
Pradarias Patagônicas, o entardecer seminublado no Paso Garibaldi, a
beleza da Lapataia, a imponência das magnificas Torres Del Paine e o inu-
sitado em conhecer os rios de gelo, que são Los Glaciares. Além de tudo
isso, este livro nos sugere o aconchego de charmosas cidades e as delícias
gatronômicas acessíveis no caminho.
Á Confraria do Fim do Mundo ficara a gratidão de todos nós, lei-
tores, que muito aprenderemos ao acompanhar o desenrolar desta mag-
nífica viagem. E com todos nós, a certeza de que o Grande Arquiteto do
Universo atendeu as mais intimas aspirações de seus integrantes, pois
ao encerrar a leitura deste excelente livro escrito por um motociclista,
permanece a sensação gratificante de de que cada piloto, em algum lugar
perdido na distancia - sob o ripio varrido pelo vento- "desapegou-se dos
pequenos desassossegos, dos vícios e sentimentos mesquinhos"; e "voltou
mais confiante do que era, mais humilde do que podia ser e muito menos
orgulhoso do que parecia".
Assim, na volta para casa, a partir de Buenos Aires, cada um dos
pilotos carregava uma alma mais grandiosa, um melhor conhecimen-
to de si mesmo e no coração; uma sede ainda imperceptível, que será
insaciável, de percorrer com sua moto e na companhia dos irmãos,
outras belas estradas do mundo.
Rio de janeiro, 19 de abril de 2010
PHD Road Captain Arthur Albuquerque
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